O Sacramento da Ordem

Por: Maria do Socorro Santos

     ordemTrago neste artigo, alguns elementos sobre o sacramento da Ordem, anotações e pesquisas que ao longo dos anos fiz e que dei em cursos. Não recordo as fontes, mas o material é muito bom. Aproveite!

     1. Os Sacramentos do Serviço da Comunhão

O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia,  são os Sacramentos da iniciação cristã. Fundam a Vocação comum de todos os discípulos de Cristo: Vocação a Santidade e a missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias a vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria definitiva. (CIC 1533).

Dois outros Sacramentos, a Ordem e o Matrimônio, estão ordenados a salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus. (CIC 1534).

Nesse Sacramento, os que já foram Consagrados pelo Batismo e pela Confirmação “para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem receber consagrações especificas. Os que recebem o Sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, pela Palavra e pela graça de Deus, os Pastores da Igreja”(LG 10-11). Por sua vez “aos esposos cristãos, para cumprirem dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial. (CIC 1535).

  1. O Sacramento da Ordem

A Ordem é o Sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos seus Apóstolos continua sendo exercido na Igreja até o fim dos tempos; é por tanto o Sacramento do Ministério Apostólico. Comporta três graus: O Diaconato, o Presbiterado e o Episcopado. (CIC 1536).

  1. Porque o Nome: Sacramento da Ordem.

A palavra Ordem, na antiguidade romana, designava corpos constituídos no sentido civil, sobre tudo o corpo dos que governam. “Ordinatio” ( ordenação) designa a integração num “ordo” (ordem). Na Igreja, a corpos constituídos que a Tradição não se fundamenta na sagrada Escritura (Hb 5,6;7,11; Sl 110,4), chama, desde os tempos primitivos, de “taxeis” (em grego), de “ordines”: por exemplo a Liturgia fala do “ordo episcopum”(ordem dos bispos), do “ordo presbyteratum” (ordem dos presbíteros), do “ordo diaconorum” ( ordem dos diáconos). Outros grupos recebem também este nome de “ordo” os Catecúmenos, as virgens, os esposos, as viúvas etc. (CIC 1537).

A integração num desses corpos da Igreja era feita por um rito chamado ordinatio ato religioso e Litúrgico que consistia numa consagração, numa benção ou num  Sacramento. Hoje a palavra “ordinatio” é reservada ao ato Sacramental que integra na ordem Bispos, Presbíteros e Diáconos, e que transcende uma simples eleição, designada, delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um Dom do Espírito Santo que permiti exercer um “poder sagrado”(“sacra potestas”)(LG 10). Que só pode vim do próprio Cristo, através de sua Igreja. A imposição das mãos do Bispo, com a Oração Consecratória, constitui o sinal visível desta consagração(CIC 1538). Este é o Sacramento que  Consagra as lideranças de maior responsabilidade no serviço do povo de Deus (Mc 3,13-19; Lc 6, 12-16).

Toda Vocação é um chamado de Deus. É Ele quem chama. A nossa resposta é livre o primeiro e fundamental de Deus é para a vida. Para que todos realizem esta vocação, Deus chama a todos para serem seu povo. O Povo de Deus é chamado a ser Igreja em Cristo, por Cristo e com Cristo. Dentro da Igreja- Comunidade, cada um é chamado  a um estado de vida e a desempenhar uma função ou missão de acordo com os dons e capacidades pessoais, e também de acordo com as necessidades da Comunidade.

O Ministério sacerdotal – é uma vocação para ser o sinal de Cristo que serve. Existe em função dos serviços da Comunidade dos fiéis. O Padre existe em função do serviço da Comunidade. Ele é ordenado para o serviço dos irmãos, na Fé. Também a Comunidade necessita de Ministérios (servidores): animar, catequizar, cantar, cuidar dos doentes.

O Ministério é um poder, um serviço. Não pertence a um determinado individuo: é da Comunidade. Ninguém tem o poder de monopolizar o poder que lhe foi concedido e utilizá-lo para si mesmo. A finalidade dos ministérios é tornar Deus presente no meio do seu povo.

O modelo de Padre é o próprio Cristo, o Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.(Jo 10,1-8) e vai atrás das que estão perdidas e procura trazê-las de volta (Lc 15,4-7). O Padre é alguém que tem defeitos e qualidades é humano, erra é limitado… “O Padre é fruto de uma Comunidade que reza…” as vezes a gente exige do Padre, exige mais Padres, mas, nunca reza pelas vocações sacerdotais, não incentiva o jovem a assumir esta vocação. A Catequese da Crisma é responsável um pouco por isso. É importante incentivar a Comunidade a interessar-se a rezar pelas vocações. Orientar a mentalidade que ainda está muito presente , mesmo na hierarquia de que o Sacramento da Ordem confere: honra, privilégios, status social, etc. O Padre é o Pastor da Comunidade como Jesus, ele deve está perto do povo, encorajando, denunciando quem oprime os irmãos, anunciando a Boa Nova, reunido os que estão perdidos e reconciliando os que estão afastados, protegendo os indefesos…

O Padre é o homem de Cristo, da Igreja, dos irmãos: tirado dentre os homens, a serviço dos irmãos (Hb 5,1-4).

O Padre é o homem da palavra: transmite a Palavra de Deus aos homens de hoje. Escuta-a, e a vive. O Padre é o animador da Comunidade Cristã: Conserva-a unida, estimula-a a enfrentar os problemas, coordena as responsabilidades.

O Padre é o educador da Fé: Ajuda os irmãos a descobrir, desenvolver e repartir o dom da Fé. Procura interpretar os acontecimentos de hoje a Luz da Fé, para descobrir neles os apelos de Deus.

O sinal desse sacramento: É a imposição das mãos (1Tm 4,14).

A graça: É a consagração da pessoa e força para prestar um serviço.

  1. Quando nasceu o Sacramento da Ordem?

No tempo de Jesus. E Jesus confirmou este Sacramento em diversas ocasiões, especialmente quando mandou os Apóstolos celebrarem a Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”(Lc 22,19). Depois os Apóstolos e  sucessores dividiram este Sacramento em Três Graus: Diáconos(1Tm 3,8-13; At 3,1-6). Presbíteros ou Padres (At 14,23; 1Tm 5,17-22) e Bispos (1Tm 3,1-7). Esta graduação ainda teve muitas mudanças na história. Mas até hoje conservamos estes três graus:

Os diáconos: podem batizar, assistir os Matrimônios, Fazer Celebração da Palavra, animar as Comunidades, formar os agentes de Pastoral etc.

Os padres: podem fazer o que o Diácono faz, mas especificamente atender as confições, Celebrar a Eucaristia (Missa) atender aos doentes com o Sacramento da Unção dos Enfermos.

O bispo: pode fazer tudo o que o Padre faz. Mas especificamente, Ordenar os Diáconos, os Padres e outros bispos, Celebrar o Sacramento da Crisma. Pois o bispo recebe este Sacramento por completo.

  1. Cristo o Único e Eterno Sacerdote

O novo Sacramento atribui só a Cristo o titulo de Sacerdote. Realmente, ele ofereceu o grande e único sacrifício: entregou-se a si próprio como oferta ao Pai pela salvação da humanidade. A Carta ao Hebreus capítulos de 1 a 10 é uma grande explicação do sacerdócio de Cristo. Os sacerdotes do Antigo Testamento ofereciam sacrifícios a Deus por si e pelo povo, a fim de obter o perdão de seus pecados e do povo, e para implorar as bênçãos divinas.

Jesus, como sacerdote perfeito e Santo, ofereceu a própria vida, não por si, mais para conseguir a salvação dos homens. O seu sacrifício é o único, o perfeito e o agradável de Deus.

Quando o Padre preside a Eucaristia, oferece ao Pai o mesmo sacrifício de Jesus, o grande Sacerdote é mediador, fazendo “em memória de Jesus” o que Jesus fez  uma vez por todas, da Cruz, afim de conseguir-nos a salvação. Cristo o ofereceu um sacrifício que reconciliou com o Pai todos os homens de todos os tempos. Por isso, não precisamos de outros sacerdotes e de outros sacrifícios, como no AT (Hb 7,26; 9,11-14). O Padre, na Missa se torna Ministro, aquele que o oferece a Deus aquilo que Jesus se torna para nos reconciliar com o Pai.

  1. Missão do Padre

As vezes a gente houve dizer que o Padre deve ficar na sacristia, ou seja, sua missão seria unicamente Espiritual que não deve se intrometer na sociedade, pois sua função é rezar a Missa, confessar, abençoar os casamentos, isso é verdade, mas não é o resumo completo da missão do Padre. Sua missão é uma só: a de Cristo. Pois Cristo foi Profeta, Sacerdote e Pastor. A missão do Padre dever a mesma de Jesus:

Profeta: Ser Profeta é evangelizar. O Padre presta a Comunidade o Serviço da Palavra. É alguém que busca na Palavra de Deus a fonte de seu trabalho e de sua pregação. A Bíblia é seu alimento. Possui uma função de ensinar. Quando alguém é ordenado Padre, o bispo diz: “transmite a todos a Palavra de Deus que recebestes com alegria. Meditando na lei do Senhor, procurando crer no que leres ensinar e creres e praticar o que ensinares. Seja portanto, a tua pregação alimento para o povo de Deus, e tua vida estímulo para os fiéis, de modo a edificares a casa de Deus, isto é, a Igreja, pela palavra e pelo exemplo”. A missão do Padre é ser também ele:

Santificador: ou seja, sacerdote. Ele exerce o Serviço da Liturgia. Deixemos que as palavras da ordenação expliquem esse significado.”exerce, também, em Cristo, a função de Santificar. Por teu ministério, o sacrifício espiritual dos fiéis atinge a plenitude, unindo-se ao sacrifício de Cristo, que por tuas mãos é oferecido sobre o altar, ao celebrares os sagrados mistérios. Toma em consciência o que fazes e põem em prática o que celebras, de modo que, ao celebrar os mistérios da Morte e Ressurreição do Senhor, te esforces para mortificar teu corpo, fugindo aos vícios para viver uma vida nova. Incorporando os homens ao povo de Deus pelo Batismo, perdoando os pecados em Nome de Cristo e da Igreja pelo Sacramento da Penitência, confortando os doentes com a Sagrada Unção, celebrando a Eucaristia… Lembra-te de que foste escolhido dentre os homens e colocando a serviço deles nas coisas de Deus. Desempenha com verdadeira caridade e continua alegria da missão de Cristo Sacerdote”. A missão do Padre é ser também:

Pastor: “participando da missão do Cristo  Pastor e chefe, procura unido e obediente ao bispo, reunir fiéis numa só família, a fim de conduzi-los a Deus Pai. Tem sempre diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor que não veio para ser servido, mais para servir e para buscar e salvar o que estava perdido”. Por isso o Padre se faz presente, como Profeta, Sacerdote e Pastor, em todos os momentos da vida do povo a ele confiado.

  1. O Desafio da Realidade:

Todo cristão é chamado por Deus a doar sua vida no serviço dos irmãos. Há pessoas que entregam sua vida totalmente a serviço do Reino de Deus. Os cristãos Consagrados, entre estes o Padre, são chamados a prestar serviço especial a Comunidade. O Padre é tirado “ do meio do povo é colocado a serviço do Povo” (Hb 5,14). Deve entregar sua vida toda em favor da libertação plena dos irmãos. Na prática do Sacramento da Ordem encontramos Valores e Limites:

Valores: Cresce na comunidade cristã o amor pelo sacerdócio. Aumenta o número de Padres que se doam pela evangelização, sobre tudo dos pobres. Cresce o número de Padres na comunidade Religiosa que testemunham o evangelho vivendo no meio do povo, trabalhando com os pobres, sendo pobre com o pobre.  É cada vez maior o número de cristãos engajados e consagrados que vivem o profetismo até as últimas consequências.

Limites: Mentalidade consumista e capitalista que não vê na vocação sacerdotal, religiosa e laical um serviço de promoção ao homem. Esfacelamento das famílias e diminuição da vida cristã no lar, contribuindo para a falta de cultivo vocacional na família. Celibato obrigatório que afasta diversos jovens da vocação sacerdotal e também o contra testemunho de alguns Padres na vivencia do Celibato.

  1. Cristo age nos seus Ministros.

O Padre marcou, e ainda marca muito a sociedade brasileira. Quem é o Padre? Padre, para quê?  Jesus veio e este mundo para construir o Reino chamou diversos colaboradores para trabalhar com ele diretamente. Faz um convite radical para um grupo de doze homens: “sigam-me”! Estes foram os continuadores de Jesus: saíram pregando pelo mundo, curando os males, formando Comunidades, ensinando o povo. Se tornaram embaixadores de Cristo(2Cor 5,20). Outros sucederam os Apóstolos: É Cristo que continua agindo na fragilidade de seus seguidores e ministros.

O Ministério sacerdotal – a sagrada Ordem é uma vocação para ser o sinal de Cristo que serve. Existe em função do serviço da Comunidade dos fiéis. E o Padre? Jesus escolheu discípulos com uma missão especial: continuarem aqui na terra a missão especial de Jesus. Qual missão? Anunciar o Evangelho, guiar o Povo de Deus e presidir o culto. Quem recebe esta missão são os Bispos e os Padres.

  1. Sacerdócio e Celibato

O Concílio Vaticano II, destaca o Sacerdócio como diaconia (Serviço). Uma tríplice dimensão: Serviço da Palavra, Serviço do Pastoreio, destacadas estas três funções: A Pregação, o Governo e a Santificação. Quando se fala em sacerdócio sempre vem uma pergunta do Celibato Casto. Não por menosprezo ao casamento. A missão de Jesus era construir o Reino, ou melhor, o Reino de Deus. Para isso canalizou todas as forças. Não se casou porque não estava limitado a uma família, mais a sua vida era toda voltada para o projeto do Pai, que é servir o Reino.

No começo da Igreja o celibato não era obrigatório. Pedro, o primeiro animador da Comunidade Igreja, segundo a Bíblia era casado. O celibato era proposto como maneira de proporcionar mais disposição para o serviço do Reino. Foi a partir  do século IV que o celibato foi se tornando cada vez mais obrigatório na Igreja Latina. Hoje é uma lei eclesial para os que desejam assumir o ministério de Presbítero entre nós.

      10. Rito da de Ordenação

Como desenvolve-se o rito de ordenação? Eleição do candidato, o futuro ministro é apresentado ao bispo para ser ordenado. Homilia: o bispo fala sobre o candidato e ao povo sobre a missão do futuro ministro do Senhor.

Diálogo: o bispo dialoga com o candidato sobre a vocação e a missão que ele tem e irá assumir publicamente.

Oração da Comunidade e Ladainha de todos os Santos: a Igreja reza pelo eleito, que se prostra, enquanto a assembleia invoca o auxilio de Deus e a interseção dos Santos.

Imposição das mãos e Oração consecratória: é a transmissão do Espírito Santo, do poder sacerdotal. Sinal da benção, com oração consecratória o bispo invoca o Espírito Santo e pede as Graças de Deus.

Vestimenta com a Túnica: o candidato pertence agora ao serviço dos irmãos, que devem ser realizados sem mancha, exemplarmente.

Liturgia Eucarística: o ordenado dela participa em lugar de destaque, como sinais da presença de Cristo.

  • Eis o significado de alguns Símbolos:

Prostração: gesto de humildade. O Sacerdote é frágil, como todo homem. É Cristo que o torna forte.

Diálogo: publicamente o candidato diz o seu sim e faz a promessa de fidelidade à nova missão.

Unção: o novo ministro e escolhido e consagrado para o serviço de Deus.

Entrega da Patena e do Cálice: o novo Padre recebe os objetos de sua principal atividade: a Celebração da Eucaristia(Missa).

Estola: sinal do poder serviço (aquele que serve coloca o avental).

  • Sugestões para melhor vivenciar a Ordem.
  • Valorização dos diversos ministérios ou serviços da Comunidade. Apresentação de modelos de vida a serviço da Comunidade, na Catequese, nas Celebrações Eucarísticas, na Catequese da Crisma, no mês Vocacional.
  • Reflexões com os casais e movimentos de adultos sobre o ministério da Igreja, destacando o sacerdócio.
  • Valorização do sacerdócio comum dos fiéis, caminho para o surgimento da vocação para o ministério sacerdotal.
  • Organização da Pastoral vocacional em todos os níveis: Diocesano, Paroquial, comunitário, etc… Convites a Seminaristas para atuarem nas comunidades cristãs.

PARA REFLETIR:

  • Como estão as promoções vocacionais em nossas Comunidades?
  • Depois desse texto sobre o Sacramento do Ordem. Como você vê a importância do Padre na Igreja?
  • Como a Catequese deve fazer para trabalhar melhor este Sacramento?

4 Comentários

  1. A palavra ordem vem do latim: ordo, ordinis. Significa grupo, corpo, categoria de pessoas. No tempo dos romanos se falava da ordem dos senadores (do grupo dos senadores), ordem dos advogados, ainda usado em português (da categoria dos advogados). Assim, também se pode falar da ordem dos padres, e do sacramento da ordem, isto é, o sacramento que faz alguém entrar neste grupo ou corpo de pessoas. Por isso se fala em sacramento da Ordem.

    • Cara Alice Soares
      Obrigado por acessar nosso site. Você nos pergunta por que o Sacramento da Ordem é chamado assim. Então, vejamos.
      É chamado assim, de modo simples, porque há uma “ordem” na sua hierarquia: primeiro vem o diácono; segundo o presbítero ou padre; e terceiro o epíscopo ou bispo. O Sacramento em sua essência (que é o serviço) é um só, entretanto, sua ação é desdobrada em três partes “desiguais” quanto a aplicação desse serviço: o diácono, o padre e o bispo. Nessa ordem. Daí ser conhecido por Sacramento da Ordem. De forma simples, é isso.
      Esperamos ter ajudado. Volte mais vezes.

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