O pobre e a esperança

Por Sebastião Catequista

Quando o pobre perde a esperança só há uma opção: o pai.

A esperança é uma “virtude” cristã enquanto último recurso na porta do desespero, quando tudo parece não dá certo; quando no final do túnel a luz é fraca ou não tem mais; a esperança surge como força que renova, que traz novo alento; que nos traz uma água restauradora; uma luz que não se apaga; que nos coloca de novo dentro da vida, dentro do jogo da vida, de podemos respirar de novo.

Mas, quando tudo isto que a esperança nos traz acaba? O que nos resta fazer?

Esta é a pergunta que emerge da nossa falta de esperança, de nosso desespero e penúria. E aqui voltamos nosso olhar para o pobre. O pobre todo dia, o dia todo, vive do “Não”. Leva muitos “nãos” durante o dia, para poder ter um “Sim” que lhe sacia a fome, as suas necessidades básicas de existência.

Assim é a vida do pobre. E quando não há mais esperança resta o pai. O Pai é seu último recurso. E, o Pai vem ao seu encontro e lhe sacia as necessidades. O pobre de barriga cheia, tendo do que sobreviver e tendo um abrigo para se proteger é sinal de reino de Deus; o contrário é sua ausência. Por isso que o pobre é um permanente questionamento ao nosso modelo e sistema de vida e de relações. Nesse sentido, o pobre é o juízo de Deus em ação.

Aqui descobrimos um mistério de fé: o pobre é sacramento. Não há explicação. As coisas de Deus nem sempre há um explicação satisfatória.

O pobre é a consciência inconsciente do sistema social político econômico religioso moderno. Este por sua vez nasce das cinzas de outros modelos do passado. O pobre é o julgamento de Deus sobre o estilo de vida criado pelas sociedades modernas e que são contrárias a o projeto de Deus.

Com o pobre aprendemos, como diz são Paulo – a viver no muito ou no pouco (cf. Fl 4,11-13). O pobre nos ensina sobre o que é essencial na vida e sobre a confiança em Deus. Nos ensina em não desistir depois de muitos nãos. Um não aqui é um sim ali.

O pobre não quer nossa caridade, quer nosso compromisso com ele, compromisso que vira justiça e luta em favor da vida contra as forças da morte. A esperança é uma luz no final do túnel mas, acaba. Um dia acaba. E neste dia o que resta? O Pai! Nos ensina o pobre. Ele é seu “padrinho”. Como se dá a relação do pobre com o Pai? É o que precisamos aprender. Esse é um caminho pedagógico! Jesus nesse sentido é o melhor pedagogo (cf. Fl 2,5-8s).

Aqui e acolá vemos por aí pessoas “publicas” se autointitulando “pai dos pobres” ou “mãe dos pobres”, isto é uma demagogia e blasfêmia sem tamanho. Devemos ter cuidado com isso. O pobre é uma escola, por ele aprendemos a seguir Jesus e amar a Deus, o Pai, no Espírito Santo. O pobre nos ensina a confiar totalmente no Pai.

Caro amigo/a leitor/a, como você “ver” o pobre? Como você entende ser ele um “sacramento” de fé? Qual a sua relação com o pobre? Em que ele nos ajuda a viver uma espiritualidade a partir de uma ótica “da pobreza” evangélica?

Fica aqui a provocação!

1 Comentário

  1. O texto me levou a refletir sobre o “pobre” que tudo tem, mas falta algo. Infelizmente estamos em uma sociedade onde a pobreza está além do econômico, do financeiro, do prato cheio, ou do lugar pra morar ( não estou dizendo que não há importância em todas estas questões), é que a realidade de boa parte da população é a política do TER tudo e nada fazer sentido. E ai vivemos a pobreza e a dor da alma.

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