É tempo de advento

É tempo de advento…

Por: Sebastião Catequista

Advento, epifania, parusia

Advento é uma tradução do latim “adventus” que significa “vinda” “chegada” e está relacionada a chegada “de Deus” no “meio do seu povo” no Primeiro Testamento. Mas também, “adventus” é uma tradução de duas palavras gregas: “epifania” e “parusia” e ambas sendo equivalentes, para a ideia de: manifestação, vinda, chegada.

            Nos textos proféticos do Primeira Testamento, se fala da chegada de Deus no meio do povo marcada por grandes “eventos escatológicos”. Aqui, há todo um imaginário que quer suscitar temor no sentido de reconhecer o poderio de Deus que vem para julgar as nações e salvar o seu povo.

            No Segundo Testamento, os primeiros cristãos diante do contexto da perseguição as comunidades e num momento de crise, se pergunta pela “vinda” do Senhor. A partir da releitura das profecias e da promessa da segunda vinda de Jesus, reelaboram a ideia da “parusia”: a última e definitiva volta do Senhor.

            Essa volta não será como a primeira que aconteceu pelo mistério da Encarnação. Ela será algo escatológico. Ele virá com Sua Glória e Esplendor.

Para falar de como será esse dia, os primeiros cristãos usam os recursos próprios da cultura grega para exprimir sua fé.

            A linguagem simbólica nos textos do Segundo Testamento é muito intensa, de um imaginário muito forte. Ela alimenta a convicção de que, aquilo que cremos é aquilo que esperamos: o Senhor virá!  É a Parusia.

            Durante a passagem de um século para outro, ou de um milênio para outro, a parusia tomou conta do imaginário e ambiente cristão, sobretudo das comunidades evangélicas, mas também católica, nos períodos mais críticos da história humana.

            No século XX houve muitos cristãos pregando o “fim do mundo” pela ocasião da “segunda vinda” (parusia) iminente de Jesus. Os “sinais cataclismos” pelas quais a terra está passando dada a agressão humana levaram os cristãos de diversos grupos a tomarem atitudes de interpretação como sendo os “sinais escatológicos” (derradeiro, último) da volta de Jesus, em breve.

            Com o passar do tempo, pouco a pouco, o povo vai tomando como verdade absoluta esse jeito de crer e imaginar a segunda vinda do Senhor, dando um “colorido” para essas “convicções” milenaristas. Algo que se deve ter certos cuidados!

            No “Credo” a Igreja proclama como verdade de fé a segunda vinda de Jesus, portanto, a parusia. E celebra essa fé em sua liturgia, sobretudo no período natalino. Quanto à forma dessa vinda, não emite um juízo sobre, deixando que o “imaginário” simbólico e cultural se exprima conforme herança cultural de cada época.

            Quanto a celebração do período natalino ela está fundamentada em dois pilares bíblico: o mistério da Encarnação, aquele que diz que o Senhor já veio e “se fez carne (corpo, homem, cultura, história) e habitou entre nós” (cf. Jo 1, 14s); e a crença de que “Ele virá em sua glória” e terá as rédeas da História em suas mãos (cf. Fl 3,20-21; Ap 1,7) no momento final.

            E ao celebrar esse dado de fé que nos remete ao passado (a Encarnação) e nos projeta para o futuro escatológico (a Parusia, a Glória), a comunidade tem diante de si o apelo profético da “conversão” no sentido de nos perguntar, o que realmente é essencial na nossa vida cristã. Dizendo isso em chave bíblica litúrgica: o que estamos fazendo para vigiar, manter a vigilância, permanecer em estado de vigília orante? Pois, o Senhor está à porta, chegando inesperadamente (cf. At 1,6-8), como nos sugere a parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13).

            Tendo meditado sobre o advento e os eventos que lhe sucede, celebrados no período litúrgico denominado “tempo do Natal”, convém nos questionar como cristão e como comunidade de fé sobre, como celebraremos e viveremos esse tempo, tendo bem presente a transitoriedade e a perenidade da vida a partir da pessoa de Jesus Cristo, o Senhor.

Modelos de fé e vigilância!

            As celebrações desse período, além de sua mensagem para estarmos atentos e nos abrirmos à graça do Senhor que vem, propõe como modelo de escuta, anúncio, abertura, acolhimento e cooperação com o plano de Deus, as personagens de Isaias, Isabel e Zacarias, João Batista, Maria e José, os Pastores e Reis Magos.

Em cada celebração somos interpelados ao estado de “escuta, conversão e cooperação” para em seguida nos regozijarmos com os primeiros que receberam a graça de cantar os louvores do Senhor: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres por Ele amado!

            Eis, o que a Igreja propõe a partir do dado da Revelação: “a conversão”. Conversão, no sentido de “reler nossas opções e escolhas” mediante o fim de ano e seu novo recomeço. É um programa de vida, vida evangelicamente cristã!

Daí a pergunta: O que realmente é essencial, perene, em nossa vida? Essa pergunta nos coloca diante dos planejamentos que fazemos, e nos “acorda” para o inusitado (o Senhor pode vir a qualquer momento) e nos propõe a “vigilância evangélica” enquanto um “agora já” e um “ainda não” sem sermos levianos ou esquizofrênicos. Dizendo de outro modo: Sem nos apegar ao que é demasiadamente terreno, humano, sem o céu; mas também sem nos “agarramos alienadamente” ao “céu” esquecendo ou fugindo de quem nós somos. A liturgia nos propõe o justo equilíbrio: viver daqui da terra sem esquecer que “somos do céu” e viver o céu sem esquecer que “somos terrestres”.

 

Bibliografia consultada

  • CNBB. Guia Litúrgico Pastoral. Brasília, Edições CNBB, 2006
  • CNBB. Oficio Divino das Comunidades. São Paulo SP. Paulus, 2016.
  • CNBB. Introdução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasilia, Edições CNBB ,2008.
  • Buyst. Ione. Preparando Advento e Natal. Equipe de Liturgia/2. Petrópolis RJ, Vozes 1985.
  • Freitas. Pe. Jose Campos. Liturgia: Serviço do povo de Deus e para o povo de Deus. São Paulo SP, Paulinas, 1990
  • Beckhauser. Frei Alberto. Celebrar Bem. Petrópolis RJ, Vozes, 2013

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*