A confissão: processo de conversão.
Todo Sacramento supõe fé. Também a Confissão supõe fé. Praticá-la é um ato de fé e humildade. Sua essência nos mostra o lado frágil das relações humana e o ato heroico de quem busca se levantar, de ama-se a si mesmo, amando e sendo amando. A Confissão é um instrumento pelo qual nos reconhecemos frágeis, pecadores, limitados.
A ideia da Confissão não é se expor, não é se humilhar perante Deus ou do padre constrangedoramente. Não é constrange-se a si mesmo perante si mesmo. Não. O Sacramento não vai nessa linha. Sua perspectiva e olhar é outro, vai em outra direção. Ele busca a reconciliação, o re-estabelecimento das relações, a harmonia perdida, a maturidade individualizada de cada um frente a si mesmo; ao outro nosso semelhante; a Deus e nas relações com tudo que nos cerca.
A confissão é um ato livre, adulto, maduro, de quem se reconhece limitado, pecador. Alguém que comete erros, que tece teias de maldades mediante situações, que quebra a aliança com Deus e os irmãos, que comente pecados. Pensado e agindo assim, a Confissão serve como instrumento de parada, de reflexão, de diálogo consigo mesmo e com as partes implicada nessa relação. A Confissão é um instrumento cuja graça divina nos ajuda nesse processo de reconciliação e que a reflexão, o diálogo, a consciência, a oração e a conversão formam o conjunto que a torna um ato concreto e benfazejo.
Confessar é refazer-se e refazer a comunhão/harmonia quebrada. E isso é um processo, processo que acontece de modo pedagógico da seguinte forma: em um dado momento tomamos consciência dos nossos limites, dos nossos pecados; dessa consciência nasce o desejo de mudanças, e ela começa pelo ato de confessar os pecados; tal confissão supõe-se arrependimento e uma vontade enorme de mudanças, para isso, temos que vencer a vergonha, o medo, a timidez, dá lugar à confiança; para isso a oração se faz necessária, onde buscamos luz, forças espirituais, clareza de ideias, firmezas para o passo seguinte; a conversão, é através desse momento que concretizamos o que durante todo processo da confissão, buscamos vivenciar: a reconciliação.
Eis a Confissão. Um processo que tem começo na conscientização, passa pela confissão e termina na conversão. A conversão é um processo permanente que se faz de pequenos atos de reconciliação e virtudes. Por isso que, a Confissão tem também outro nome, Penitência. Penitencia enquanto ideia de conversão permanente, e não apenas como um ato de seguidas ‘obras religiosas’ para ficar bem com Deus e com a Religião.
O salmista no Salmo 32 nos diz: “Enquanto eu não confessei minha culpa, dentro de mim definhava meus ossos e eu gemia por dias inteiros. Eu confessei, afinal, meu pecado e minha falta vos fiz conhecer. Disse: ‘Eu irei confessar meu pecado!’ E perdoastes, Senhor, minha falta. Feliz o homem a quem o Senhor não olha mais como sendo culpado, e cuja alma não há falsidade!” (Sl 32[31] Liturgia das Horas)
Esses versículos retratam bem, a graça do sacramento da Confissão, nosso interior antes, durante e depois, bem como todo processo que envolve tal sacramento.
O medo de se confessar. O que confessar?
Mas… Porque tanto receio da Confissão sacramental? Há de fato, um infantilismo por parte dos fiéis perante esse Sacramento. Muitos são os motivos e creio que na história desse sacramento, dentro de um contexto maior da eclesiologia advinda do concílio de Trento, e das adversidades históricas nas sociedades modernas, temos vários elementos a considerar. Entretanto, não é o caso de fazermos uma história desse Sacramento, apenas refletir alguns elementos que nos ajude compreender a Confissão.
Partindo de um problema concreto. Qual a diferença da confissão a um padre da visita a um psicólogo/psiquiatra? De modo rápido podemos dizer que: aquilo que dizemos a um profissional da psicologia, que ajuda o seu cliente a descobrir as causas de suas neuroses, desconfortos e problemas de consciência e relações tem sua importância como tal, a partir da conscientização e da busca de soluções; porém, muitas vezes e até com ajuda de remédios, não traz aquela força e aquela paz cujas energias nos dá o impulso necessários para a verdadeira transformação. Pois, nem sempre, perante ele, somos nós mesmos e verdadeiros em essência. Já perante o padre, a confissão, acontece justamente o contrário: somos provocados por forças das circunstancias de fé, e pelo simples fato de estarmos perante o sagrado, como se nada dele escapa e como de nós mesmos não podemos fugir, fingir ou mesmo negar-nos e negar os fatos, tomamos ‘pé’ e fazemos valer o ato sacramental. Estamos diante de Deus, de nossa consciência, diante do sagrado ou daquilo que o representa, o padre. Eis a diferença. O padre não é o sagrado e nem o mais importante nessa relação, ele constitui a ponte, o instrumento pelo qual ambos os lados (confessante e Deus) nele, tem a verbalização e a concretização da ação que está acontecendo. Da parte de Deus, o padre faz a vez da escuta, orienta; da parte do confessante, reza junto, sugere ações, para o restante do processo. Segundo muitas testemunhas, a diferença entre ambas as atividades (a do psicólogo e a do padre) é que numa, a pessoa sai com o problema encaminhado, mas não resolvido. Falou, desabafou, mas em nada mudou, há apenas pistas de possíveis resoluções, mas que em suma fica algo ainda como que, faltando; no padre, sai leve, com forças espirituais, com certezas, curado. Tem algo a mais. Eis de modo rápido o significado da confissão e de sua importância.
Mas, o que confessar? Essa é uma pergunta frequente. 70% das confissões não passam de pequenas “coisas evasivas” pelas quais as pessoas passam tempo repetindo em sucessivas confissões, justamente por não compreender o caráter da mesma; ou se por um lado, são assim, por outro, é verdade, bem poucas realmente se confessam como tal, de modo profundo e verdadeiro. Talvez isso reflita a “decadência” desse Sacramento de certo modo, na mentalidade moderna, como já fiz nota acima. O fato é que, uma confissão infantilista por motivos vários, não corresponde ao seu caráter verdadeiro, de outro modo sim, ela acontece e é valida. Mas uma comfissão adulta e bem feita gera conversão, processo de conversão, e com ela, se realiza todo potencial para qual foi instituída.
Enquanto Sacramento, a Igreja a recomenda pelo menos uma vez por ano, nas festividades da Páscoa do Senhor, atualmente, mesmo este Sacramento estando passando por uma crise de sentido; digo não ele, mas toda a Sociedade, e seus valores, inclusive a Religião; mesmo assim, e ainda assim, é ainda muito procurado e praticado. No evangelho, Jesus nos incentiva a conversão, a perdoar-nos uns aos outros mutuamente e nos diz que, o perdão do Pai, passa pelo perdoar-nos uns aos outros enquanto semelhantes.
O que se diz numa confissão? Tudo. Tudo que nos colocou num estado de quebra de aliança e desarmonia. Tudo que nos levou a praticar a confissão e a desejar a conversão. Confessar-se, é um ato de maturidade e de fé cristã.
O Sacramento assim entendido é um meio e um instrumento salutar para aprendemos a sermos pessoas melhores; a reconhecer as nossas e as capacidades dos outros; é uma nova chance de sermos “novas criaturas” em Cristo Jesus.
Conclusão
Quisermos falar do Sacramento da Confissão ou Penitência a partir das questões práticas e com fundamentação teológica mais empírica. Aqui não abordamos a história desse Sacramento, nem seus momentos altos e baixos nesse processo; muito menos ainda, outros aspectos não menos importante; não o abordamos a partir da Doutrina estabelecida nos concílios e nem no catecismo, apesar de telo consultado. Entendemos que o conteúdo apresentado foi mais de ordem pastoral e catequética. Contrapomos psicologia e sacramento não como um negativo e outro positivo, mas como descritivo mediante testemunhas populares e reflexões a muito amadurecidas e cujos artigos vários autores já falaram por ai. Nossa preocupação foi tão somente lembrar a importância desse Sacramento; a maturidade de quem o pratica e deseja vive-lo profundamente; a presença e eficácia do ato de fé, que é essencial e primordial; etc. Espero, te esclarecido e ajudado sobretudo aos meus interlocutores e internautas.
Seja o primeiro a comentar