O cristianismo nascente enfrentou muitas adversidades em seu caminho. Muitos foram os desafios políticos, sociais, culturais, filosóficos e religiosos. O gnosticismo também foi um desses desafios.
Segundo alguns estudiosos, o gnosticismo era uma tendência cujas bases tinham elementos das religiões orientais e da mística helênica. O movimento gnóstico era uma reação quase que cultural contra os fundamentos das tradições religiosas pagãs do império, bem como também das tradições religiosas judaicas e cristãs. O chão dessa tendência era a mesma na qual estava o cristianismo contextualizado: o povo vivia numa época de transformações política-militar, ideológica-cultural e social do mundo grego-romano.
Nesse contexto muitas foram as pessoas convertidas ao cristianismo nascente, e que se deixavam seduzir-se pela onda da hora, e faziam uma leitura da proposta cristã a partir da visão gnóstica.
Mas, no geral o que caracterizava o pensamento gnóstico? De que modo à comunidade cristã reagiu às suas propostas e ideologias?
Segundo o escritor Frangiotti no seu livro “História das Heresias” o movimento gnóstico se caracterizava “(…) pelo menosprezo da matéria, da carne e superestimavam a alma-espirito. Para eles, a matéria é má em si mesma, incapaz e desnecessária para a salvação (…). por isso, Deus, o espírito perfeitíssimo, transcendente, imutável e impassível, não pode, por nenhuma razão, assumir qualquer parcela da matéria. Em outras palavras, é impossível conceber a encarnação de Deus na matéria (Frangiotti: 1995, pág. 27).
Eles se julgavam assim, como atingido um estágio do conhecimento superior, diferenciando-se dos demais cristãos e pessoas comuns. Para os gnósticos só através desse conhecimento superior é que se chegava à salvação. As pessoas deveriam passar por uma iniciação se quisessem atingir esse conhecimento secreto.
Ao pensar e agir assim, os gnósticos negavam a encarnação de Jesus e o mistério da redenção. Para eles, Jesus corporal, carnal era só aparência. Se Jesus fosse Deus seu corpo real só podia ser astral, celestial, espiritual, e não material, carnal. Dessa forma os gnósticos esvaziavam o conteúdo da fé cristã.
Sua visão era dualista. Distorcia a realidade, colocava a vida comunitária em perigo, como também os conceitos e as verdades da fé cristã. As comunidades da Ásia Menor e de tradição paulina, bem como as que têm influencias do apóstolo Pedro sofreram no seu cotidiano com essas e outras correntes e situações. Era preciso reagir.
E os cristãos reagiram duramente e veementemente contra essa forma de pensar, agir e crer. E essa reação vai na linha da tradição apostólica. Abaixo, oferecemos alguns elementos a mais para aprofundamento e leitura dos textos bíblicos cujas linhas estão contextualizadas dentro dessa realidade.
Evangelho de João
O evangelho de João difere dos demais sinóticos (Mt, Mc e Lc) pela sua composição, conteúdos e pela sua teologia.
Logo no inicio temos o Prologo e a Semana inaugural da missão de Jesus. Depois, temos os capítulos que configuram o coração do seu escrito: o livro dos sinais (1,19-12,50) e o livro da glória (13,1-20,31).
No livro dos Sinais nos é apresentado sete deles: em Caná a transformação de água em vinho; a cura do filho do funcionário real; o paralítico junto à piscina; a multiplicação dos pães; Jesus caminha nas águas; a cura do cego de nascimento; a ressurreição de Lazaro.
O livro da Glória nos apresenta Jesus nos seus últimos dias e sua doação total ao projeto do Pai. Sua morte, ainda que se configure como derrota, o evangelista nos mostra que é a glória. É preciso que a semente morra para dar frutos. Esse é o seu maior legado: o amor oblativo.
O evangelista termina seu escrito com um epilogo ou apêndice, no capitulo 21.
Para quem ele escreve? Quais os principais desafios?
O autor escreve para as comunidades da Ásia Menor, aí elas enfrentam conflitos com as autoridades religiosas do judaísmo; a marginalização social por ser excluídas das sinagogas; as ideias tanto das filosofias grega e do movimento gnóstico. Nesse contexto, o evangelista mostra a pessoa de Jesus bem humana e encarnada, porém, nos diz que esse Jesus é de origem divina, e por isso mesmo, seu mistério só pode ser desvelado e visto a partir da fé, dos Sinais; e compreender sua Glória a partir da Ressureição.
Ao ler o evangelho de João devemos entrar na dinâmica do evangelista para compreender Jesus e sua mensagem, bem como entender, visualizar o contexto e os conflitos dos quais as comunidades tiveram que enfrentar.
Evidentemente que os gnósticos foram um dos desafios, e que constitui ainda hoje, um desafio bem maior, haja vista estarmos no mundo moderno globalizado onde a cada minuto aparecem milhares de “ideias” mostrando o “verdadeiro” Jesus. Mas… as comunidades enfrentaram o problema. Senão, vejamos outros textos do Novo Testamento.
Primeira Carta de João:
João escreve mostrando a verdade da fé cristã contrapondo aos grupos cujos adjetivos encontramos no texto: sedutor, enganador, impostor, anticristos (2,18.22; 4,3; 2Jo 7); profetas da mentira (4,1); mentirosos (2,22); os que são do mundo (4,5); que se deixam guiar pelo espirito do erro (4,6); que estão fora da comunidade (2,19; 2Jo 9) e que pregam uma doutrina que não é de Cristo (2Jo 10).
Em que consistia esses erros? Pretendiam ver a Deus (3,6; 3Jo 11), viver em comunhão com ele (2,3), estar na luz (2,9), mas recusavam ver Jesus como Messias (2,22), como filho encarnado (4,2) negando a Jesus como divino humano, humano divino. A essas atitudes, o escritor é enfático em defender a fé cristã.
A carta de Judas
O autor da carta previne seus leitores contra falsas doutrinas e grupos que de algum modo corrompem a vida e a fé cristã. Suas vidas são marcadas por uma falsa piedade e religiosidade. Mas que ideias, são as atitudes que causam transtornos e divide a comunidade. É contra essa forma de conceber o cristianismo que sua carta é dirigida aos cristãos.
Muitos desses falsos mestres e suas atitudes estão de algum modo ligado ao movimento gnóstico. Judas se refere ao problema usando a linguagem e a religiosidade popular extra bíblica do seu tempo; que por sua vez está muito presente no cotidiano das pessoas. Ele chama a esses falsos mestres de ímpios (4a); que negam a Jesus como Mestre e Senhor (4b); que são licenciosos (desregrado, libertino, sensual, imoral) e não respeitam a autoridade, nem os bons costumes (8-10). Sobre esses, Judas oferece orientações firmes para a comunidade lhes corrigindo a postura e exortando a perseverar na tradição apostólica (17-25).
Segunda Carta de Pedro
No capítulo 2 e 3 da Segunda carta de Pedro, temos algumas exortações sobre essa realidade, digo dos gnósticos e falsos mestres/doutores, na vida das comunidades cristãs.
Pedro exorta a semelhança de Judas o povo cristão sobre a realidade dos falsos mestres, e proclama sobre eles a justiça e a excomunhão (2,4-9;11), a modo dos tempos passados (2,11-17). Diz que os cristãos devem se afastar dessa gente (2,18-22) e cultivar as virtudes próprias de uma vida digna, devota e abençoada por Deus, longe da injustiça e dos ímpios e falsos pregadores que negam a Jesus Cristo (3).
Há muitos outros textos principalmente da tradição paulina (Ex.: cf. Gl 1,6-10; 2Ts 2, 3-12; 2Cor 11,3-5.13-15s) que aqui não abordamos, pois, entendemos que, o artigo ficaria extenso demais. Sugerimos a você consultar um dicionário bíblico para maior aprofundamento.
De modo geral, o movimento gnóstico sempre foi uma tentação na vida das comunidades cristãs. E sempre foram rechaçados como caminho que desvirtuavam o caminho do evangelho. Porém, sua influencia na história durou muito tempo e por alguns séculos. Hoje, apesar de movimentos da Nova Era refazer esse caminho dentro da modernidade e num planeta globalizado, não tem mais aquela força e nem poder de atração como antes.
Seja como for, nesse artigo, quisemos trazer alguns elementos de reflexão para ajudar nosso leitor na leitura dos textos bíblicos das cartas católicas e melhor compreender o contexto das mesmas. Boa leitura.
Bibliografia consultada:
– Nova Bíblia Pastoral, São Paulo, Paulus, 2014.
– Bíblia Sagrada, Tradução da CNBB, Brasília, 2008.
– Biblia TEB, Tradução Ecumênica da Bíblia, São Paulo, Loyola,
– Novo Testamento Grego Interlinear, São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 2004
– Nova Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulus, 2002.
– Frangiotti, Roque. História das Heresias (Século I-VII) – Conflitos Ideologicos dentro do Cristianismo. São Paulo, Paulus, 1995.
Já se passaram mais de 2000 anos, e as lições que o grande mestre Jesus deixou ainda estão. PODE SER APRENDIDAS. Se não vejamos onde fica o “Não julgueis para não ser julgados”. “Com a vara que medires sereis medidos.” Tentar caracterizar o GNOSTICISMO UNIVERSAL através de um ÚNICO pensamento e como dizer que a Igreja durante a Idade Média e até os dias de hoje SÓ COMETEU ERROS. Senão vejamos Historicamente a Igreja Católica autorizou a escravidão negra, uma vez que toda nação que saiu com esse intento perguntaram ao papa se aquilo era certo, ainda durante o período da idade média A MULHER, sim a mulher a Igreja defendia a tese que as MESMAS NÃO TINHAM ALMA, eram algo assim como umas bonecas. Isso inegavelmente foram erros que a Igreja teve que assumir e pedir desculpas pelos mesmos, alguns ela ainda não pediu. Digo que estas supostas heresias propaladas pelos detratores do Gnosticismo são apenas distorções históricas propositais em sua maioria, apenas para esvaziar o interesse que ele desperta. São supostas porque o cristianismo enquanto religião ainda nem existia, se organizava e aqui falamos dos cristão primitivos que SIM ERAM GNÓSTICOS em sua maioria portanto e extemporâneo falar em heresia sem estudar as diversas vertentes Gnósticas e tirar conclusões apressadas sobre o mesmo a final a VERDADE da qual o Mestre Jesus falava ainda deve ser revelada pelos senhores para a Humanidade.