Atividades lúdicas e educadoras na Catequese

Por:  Sebastião Catequista.

  1. Introdução

            O método pastoral de Interação Fé e Vida assumido pela Igreja latino-americana, constitui um marco para a Catequese Renova. Através de sua pedagogia foi possível à Catequese ter uma identidade e um rosto próprio que atendesse aos desafios ‘da hora’ nos contextos em que a Igreja estava inserida.

            O método de Interação Ver, Iluminar, Agir e Celebrar tendo como “pano de fundo” a Realidade do destinatário e a Palavra de Deus falando “por trás das palavras” suscitava em todos os ouvintes uma conscientização do lugar em que viviam, os desafios que precisavam ser enfrentados, e o testemunho que precisava ser dado pela pratica evangélica do amor, da libertação e pela isenção na vida com entusiasmo e fé. Dizendo de outro modo: a Catequese assim praticada fazia surgir cristãos comprometidos, inseridos na sociedade, transformadores da realidade. Homens e mulheres de fé agindo conforme lhes inspiravam a Palavra.

            O método de Interação suscitou homens e mulheres criatãos/ãs proféticos/as de uma espiritualidade sólida a altura dos tempos atuais, entretanto, não foi capaz de ajudar a esses mesmos cristãos a manter uma postura e uma vínculo mais estreito com a Comunidade de fé. Talvez, a causa disso entre tantas, tenha sido justamente a descontinuidade do processo permanente de formação; como também, o próprio tempo com suas mudanças rápidas; as crises de várias ordens que tanto atingiu não só a sociedade como a Igreja. E isso não é culpa que se possa imputar ao método. Mas é verdadeiro que o método se mostrou eficaz e deu uma identidade própria a vida cristã na Igreja latino-americana, de modo que é sua melhor marca tanto para a evangelização e missão, quanto a vida pastoral e catequética.

            E como estamos falando de Catequese, o método é muito flexível na sua aplicabilidade podendo ser usado nas várias faixa-etárias da vida, desde a infância até a fase adulta. Porque ele usa das principais faculdades do destinatário: a vida, os sentidos, a razão, desperta e desenvolve o cognoscível, ajuda na discussão e análise do tema, facilita o aprendizado, cria senso crítico, desperta a fé, a interiorização. Desse modo, o método de Interação se mostra uma ferramenta muito útil e adequada à catequização.

            Conhecendo bem o método, então voltamos nosso olhar e reflexão para alguns aspectos de sua pedagogia a saber: as atividades e as ações transformadoras que se pode vivenciar através do método em sala com nossos catequizando, bem como o acompanhamento de seu desenvolvimento por parte dos catequistas.

            Quais as atividades devemos e podemos realizar nas diversas etapas e idades e com que finalidade através desse método?

  1. Atividades “de Despertar” para a realidade da vida e da fé

            As atividades utilizadas na Catequese não é para “passar o tempo” e muito menos para “se divertir” ou até mesmo “para prender” o catequizando na catequese. Ela indica muito mais que isso e tais compreensões são errôneas do ponto de vista sobretudo educacional. Não se realiza uma “atividade” para isso. Seu fim é bem mais nobre.

            Num primeiro momento, as atividades dentro do Ver, tem como “dinâmica” ajudar o grupo a conhecer, despertar, reagir, participar. Desse modo a/o catequista pode ver, conhecer, ter uma ideia da realidade do grupo podendo assim, encaminhar e direcionar o tema conforme o que constatou. E com certa sensibilidade, jeito e tato, tem a chance de ajudar o grupo a corrigir possíveis visões distorcidas da realidade durante o encontro.

            Além do mais, essas atividades na catequese têm como objetivo facilitar a comunicação (criar feedback) entre os participantes; ajudar a enxergar a realidade (do tema em questão) e poder dizer algo sobre ela enquanto observadores (como quem olha um quadro num museu) deixando se provocar por ela; despertar reações, enquanto o catequista observa os tipos de reações (Ex.: raiva, critica, empoderamento, fechamento da pessoa, discriminação, etc) e como elas mexem como o grupo; ajudar a perceber atitudes de liderança ou de travamento, etc. É sempre bom lembrar que para esse momento (do Ver) é importantíssimo que as atividades seja de cunho coletivo e menos individual. Onde todos possam se expressar perante todos. Nessa ocasião é bom criar regras de escuta e participação para que todos possam se expressar; e aprender a escutar e respeitar a opinião dos outros.

            E que tipo de atividades poderíamos realizar aqui? Depende muito das idades e dos temas a serem apresentados, o catequista deve ficar atendo a alguns “conselhos”:

  1. A atividade no momento do Ver não tem um fim em si mesma, serve apenas para ajudar o grupo abrir horizontes diante da mensagem que vai ser ministrada. Logo a atividade estará a serviço da mensagem. Ela não é a mensagem, logo não se deve deter muito tempo com ela. Uma vez que serviu ao objetivo, passa adiante para o próximo passo do encontro;
  2. A atividade tem que levar em consideração as características do grupo, de modo que ninguém se sinta excluído e nem pressionado, mas, sinta que seja uma atividade prazerosa de participar. O catequista não deve induzir as respostas, deixar o grupo muito livre e valorizar cada participação. Também aqui não deve dar nenhum “ensinamento” (moral, espiritual, educacional) porque o momento “é deles” por isso ao realizar as atividades desse momento do Ver deve estar atenta apenas para “perceber” o grau de fé e vida em que se encontra cada um e o grupo no geral.
  3. Geralmente, as atividades podem ser aquelas que os faça ver, ouvir, pensar, descrever, sem que sejam levados a tomar atitudes que gere constrangimento entre eles, ou a desabar algo pessoal diante do grupo (que poderia ser dito em particular ao catequista) e nesse caso não nominar alguém do grupo como exemplo. O ideal é que, como já ficou claro, sejam atividades que levem a descrição e gere participação.
  1. Atividades que “gerem atitudes educativas” diante da realidade da vida e da fé:

            Nesta modalidade, as atividades são de ordem educadora e transformadora. São aquelas em que o catequizando depois de ouvir a Palavra e sua explicação por parte do catequista, seja levado por si mesmo a “criar” sua resposta, sua atitude como resposta ao conteúdo apreendido. Esse é o momento do Agir, e suas atividades são de empoderamento e assimilação dos conteúdos apreendidos.

            Essas atividades o catequizando pode desenvolvê-la tanto individual, como coletivamente. E pode ser tanto em sala no momento, como numa outra oportunidade em grupo na comunidade, ou em pequenas equipes em casa. A ideia é ajudar ele/ela assimilar o conteúdo estudado resolvendo “o quebra-cabeça” da vida por essa atividade.

            Com essas atividades comparada com a anterior o catequista notará o que houve de crescimento tanto da pessoa individualmente como do grupo; bem como poderá constatar se o objetivo foi alcançado, parcialmente ou totalmente.  Verá quem teve ou tem dificuldade no aprendizado, etc.

            Agora, é importante notar que, mais que ter assimilado uma informação ou não, isso não diz quase nada quando ao substancial, ao que realmente importa quando se trata da conversão, da mudança da pessoa frente a Palavra. Um catequizando pode ter por exemplo, dificuldade de decorar um conteúdo ou mesmo não ter compreendido ou não saber falar sobre o mesmo, mas em outro momento, o catequista ou alguém de sua proximidade averiguar mudanças substanciais em seu comportamento para melhor, ou quem saber, ele passe a ter certos hábitos que antes não o tinha, como por exemplo: rezar mais, ir à igreja, ter um cuidado mais zeloso com um objeto, com as pessoas, ou com as coisas que dizem respeito a religião. O fato é que, quantos cristãos depois de passarem pela catequese (sobretudo jovens) não mudaram sua vida em alguma coisa? E no encontro era totalmente “alheio”, “fraquinho” “isolado” mas conseguiu dá passos.

            Por isso que o catequista deve estar atento. Essas atividades são primordiais porque é com elas que, o catequista poderá “acompanhar” seu catequizando. Intuirá se seu objetivo foi alcançado ou não. Além do mais, no geral, essas atividades devem também ajudar os catequizandos a interiorização, a oração e a meditação.

  1. Alguns conselhos e exemplos de atividades transformadora

            Cada atividade deve ajudar o catequizando a trabalhar em si a experiência de Deus, a acolhida e meditação da fé a partir dos conteúdos ensinados. Ela deve ajudá-lo a se esforçar para assimilar, compreender e viver a Palavra. E para isso é preciso dar tempo e espaço para Deus se revelar. Como bom pedagogo o catequista orienta, acompanha, presta atenção no seu desenvolvimento, corrige pequenas incompreensões e empodera seu catequizando. É o que pretende as atividades: ser um instrumento que ajuda nesse processo educativo da fé.

            E o/a catequista deve entre outras coisas mais, está atento/a quanto ao critério dessas atividades e seus objetivos conforme o conteúdo do encontro; precisa:

  1. Entender que toda atividade deve favorecer a educação da fé; incentivando seus sentidos como: memória, inteligência, afeto, vontade, corpo, as relações interpessoais;
  2. Compreender que a catequese é um processo, e nesse caso, as atividades devem oportunizar a criatividade; a comunicação tanto verbal, como corporal e sentimental, uma vez que estamos lidando com gente, com pessoas;
  3. Facilitar a descoberta, a curiosidade da fé, o fascínio pelo sagrado enquanto contemplação e mística (Exemplo: história dos santos/as, o “mistério” revelado na Eucaristia, etc); desmistificar o sagrado, porém, incentivar o temor que é diferente do tremor, do temer, ter medo. Temor é a atitude que mostra que sabemos o nosso lugar e o lugar de Deus na relação. Não é ter medo dele. Deus não se obedece, se ama. A obediência é apenas uma consequência natural do amor e não uma imposição. Todo encontro com Deus e experiência de fé leva à meditação e a contemplação naturalmente, sem fugir da realidade ou criar “ilusões” psicológicas…
  4. Suscitar participação. As atividades não são para sair da rotina, nem muito menos acomodar os catequizando para ter o controle da turma. Como já ditas tantas vezes, sua natureza é educativa. Por isso que, devem haver tanto atividades individuais como em grupo. Enquanto individual ela pode ser: um gesto, um desenho, trabalhos escritos, expressões corporais, modelagem (principalmente com os pequenos), pesquisa, montagem, etc; já as atividades coletivas podem ser encenações, sociodrama, montar cartazes/painéis temáticos, celebração, expressões lúdicas, etc
  5. Evidentemente ter cuidado com aquelas atividades que incentiva contra-valores como: o individualismo, o egoísmo, o fechamento perante o grupo (falta de socialização), a competitividade, que mate a solidariedade, etc.

A seguir apresentamos algumas atividades que podem servir de inspiração na catequese.

  • Expressões através de desenhos, modelagem e pintura;
  • Cartazes/ gravuras/ álbum seriado;
  • Encenações/ dramatização;
  • Entrevistas bíblicas;
  • Sociodrama (consiste em apresentar um pequeno drama montado a partir de uma situação social podendo o orientador dar o desfecho que quiser. A ênfases está no agir de cada personagem na trama e na participação dos ouvintes);
  • Confecção de pequenos vídeos com o grupo/equipes;
  • Músicas gesticuladas;
  • Confecção coletiva de cartazes;
  • Álbum seriados;
  • Linha bíblica do tempo;
  • Teatro/ jogral;
  • Dança temática, etc.
  1. Conclusão

            O método de Interação é usado em toda Igreja nas mais variadas frentes de trabalhos pastoral e evangelização. Entretanto, a Catequese fez dele sua marca registrada, pois, ele a caracterizou, deu identidade, consagrou o novo jeito de fazer catequese nesses trinta anos no Brasil. Mesmo que apareçam outros métodos ele será a sua referência, e por isso, é primordial que os catequistas o saibam, o use e o mantenham como instrumento próprio da Catequese.

            E já que estamos falando do método, é sempre bom lembrar: num encontro de catequese não pode faltar a oração; a leitura da Palavra; as atividades que facilitam o conhecimento da realidade e as atividades de ordem transformadora/educativas; a explicação/ensinamento do catequista; e a acolhida/despedida fraterna.

            Evidentemente que outros elementos como o silêncio, a invocação a Trindade estão presentes e nem se precisava mencionar.

            Por fim, é imprescindível que nós catequistas tenhamos uma atitude de abertura, de compromisso, de zelo, empoderando-nos a nós mesmos daquelas atitudes que leva a reservar tempo para bem preparar nossos encontros e a dar o nosso melhor, uma vez que somos enviados e portadores da “voz da Igreja” para esses nossos irmãos e irmãs que como nós estão fazendo seu processo educativo da fé e na fé.

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Bibliografia consultada     

  •  Frei Bernardo. Coleção Catequese Fundamental. Volume 1: Simbolismos e Técnicas de Encenação para a Catequese. Petrópolis: Vozes 1985.
  • Inês. Coleção Catequese Fundamental. Volume 3. Para você, Catequista. Petrópolis: Vozes 1984.
  • C.Kuisner. Baguinski. Ir. Maria. Ir. Thereza. Coleção Catequese Fundamental. Volume 7. A Bíblia: Fonte da Catequese e do Ensino Religioso. Petrópolis: Vozes, 1988.  

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