Por Sebastião Catequista
Hoje em dia, no sistema em que vivemos, até a religião e as instituições que a representa e tem lá seu patrimônio, precisa de ajuda financeira espontânea de seus adeptos fiéis. Todos sabem disso. Até porque de algum modo precisa-se conservar templos e propriedades que servem à coletividade. Por sua vez, uma personagem aparece nesse contexto: o empregado. Aquele que cuida, zela, atende, faz encaminhamentos, administra, além dos próprios lideres religiosos. São tantos e diferente papeis e isso custa caro!
O que essa realidade nos diz quando, olhamos para a simplicidade do evangelho e os ensinamentos do mestre? A fé, o evangelho, a religião, se institucionalizou e passou a ser parte do sistema que rege o mundo e a sociedade. Foi inevitável!
Mas, para além do sistema, dessa estrutura e institucionalização, há o carisma que persiste e que encanta pessoas, toca, transforma vidas, mexe com a estrutura do mundo subjetivos das pessoas, as predispõem para um ser humano mais empático, solidário, fraterno, esperançoso, cuidador de si e dos outros, salvo via de regra, algumas exceções.
Há pessoas e pessoas que fazem da estrutura institucional religiosa um meio de vida, uma profissão, e geralmente, essas pessoas mantém um padrão de vida considerável. Outras, abusam mesmo da boa vontade alheia e do poder e status da instituição… De algum modo, isso enfraquece o poder de persuasão da mensagem pregada e por muitos outros motivos como esse, faz com que milhares de pessoas se distanciem da religião, muito embora, mantenham uma crença e hábitos que fomentam de alguma forma uma relação com a divindade, com o sagrado. A cada dia é notório o número crescente dos que se declaram des-igrejados mas não descrentes.
Seja como for, é preciso pensar a subsistência da comunidade, os diferentes serviços e a pregação missionária. Aliás, pessoas que se dão voluntariamente ou são contratados para exercer um serviço em prol da coletividade é digna do seu salário. Assim nos ensinou Jesus.
Ele, Jesus, que reconhece e dizia que o “operário é digno de seu salário”; e segundo são Paulo que diz que tinha direito ao salário de pregador, mas abdicava deste em função de autenticidade de seu trabalho, não fugiu à regra. Ele reconhecia tal direito, mesmo não o tendo usado. E por causa disso passou fome, frio, penúria, etc., a tal ponto de com isso afirmar: “sei viver no pouco e no muito, na fome e na bonança” e falava assim, quando não encontrou trabalho de subsistência compatível com o seu trabalho de missionário.
Mas, enfim, trago essa reflexão, para de certo modo “justificar” (que não precisa) a generosidade da contribuição mensal de muitos cristãos às nossas comunidades e abrir uma reflexão em torno do “ofício” de nossas lideranças a frente das mesmas nas suas diferentes atividades pastorais e a necessidade de haver uma educação para a partilha solidaria muito mais do que o dízimo fruto de uma mentalidade que não condiz com a mensagem evangélica.
Muitas dessas lideranças se dão seja de modo remunerado ou de modo gratuito à vida pastoral e missionária. Algumas, bem poucas, recebem ajuda de custo em determinadas situações e outras nem tanto. Inclusive e provavelmente, muitos de vocês que agora leem esse artigo devem está em uma situação assim, descritas nessas linhas se pertence a uma instituição religiosa. Quem sabe?! Mas seja como for, é providencial que ainda tenha gente que de suas mãos pródigas mesmo sendo pobres, partilhem do pouco que tem para a comunidade de fé sob a custódia da instituição. Graças à elas que muitos projetos, ações, dentro do mundo e da cultura religiosa acontecem transformando vidas, alcançando aqueles valores que ainda nos diz ser o pequeno grão de mostarda: a solidariedade, a fraternidade, a partilha, a empatia, a inclusão. Tudo isso, é laboratório que faz com que aqueles que aí vivem essa experiência seja pessoas menos egoístas, pessoas preocupadas umas com as outras, sobretudo, os pobres. E quando isso acontece, explode sorrisos, benquerenças, curas, libertação, um ambiente mais humanizado e melhor.
E daí voltamos à ideia da partilha como instrumento de sustentação da mensagem a ser vivida e pregada, bem como da administração da vida comunitária da comunidade de fé. No discurso oficial da instituição se fala de “dízimo”, linguagem inadequada, ultrapassada, capitalista, patriarcal e que tem uma única direção: manter a instituição e aqueles que dela se privilegiam. Nesse contexto há muito pouco de evangelho e partilha que envolve todas as atividades pastorais e missionaria da comunidade…
Talvez, a ideia de partilha seja mais evangélica, coletiva, em que engloba toda uma realidade comunitária e institucional. As decisões financeiras são tomadas coletivamente, de modo responsável, transparente. A partilha reeduca as relações de poder e decisão. Torna a vida comunitária mais assertiva, as pessoas se doam mais e contribuem muito mais…
A partilha socializa algo a mais, do que o meramente financeiro e manter uma estrutura institucional. Nela, está a vida e o envolvimento das pessoas com suas corresponsabilidades, pois a partilha implica relações fraterna, comunitária, muito mais que uma mera formalidade como aquela pelo qual a pessoa “está pagando” algo todo mês e que nunca se livra dessa “conta” que nunca acaba e que sufoca com os sacrifícios pessoais cuja lavagem cerebral ideológica diz que “está devolvendo a Deus pelo muito que ele dá” e assim o faz contente e alegre sob a narrativa chantagista religiosa subjetiva emocional. Acontece…
Mas, a ideia da partilha mais do que “pagar” se trata de “partilhar” com a comunidade e com aqueles que “pensam” a realidade da missão, a própria vida embebida pela proposta evangélica de Jesus. E em se tratando da partilha para o serviço missionário, quem partilha tem sentido de participação no próprio serviço missionário. De certo modo esse gesto corrobora, uma consciência cristã que ensaia uma “nova economia solidária” a serviço do reino. Partilhar de sua labuta econômica com pequenas iniciativas que fomenta uma consciência critica e inspira e motiva o crescimento do próprio grupo e da comunidade é gesto e um exercício daquela realidade cuja Escrituras afirma que “os irmãos tinham tudo em comum” isto é, o mesmo ideal de Jesus: uma vida fraterna, solidária, inclusiva, que transforma realidades, mentes e vidas. Era assim com Jesus, onde as pessoas, homens e mulheres o servia ofertando financeiramente o pouco que tinha para que Ele com os doze e os discípulos pudesse ir e vir por toda a Galileia pregando a Boa Nova do Reino.
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