Jesus, sentido de vida

            Nascemos, crescemos, vivemos e moremos.

jesus-deusÉ essa a sentença que em determinado momento de sua vida você recebeu e aprendeu provavelmente na educação escolar. Mas, para nós cristãos ela soa dura, inflexível, sem sentido, caduca. É o mesmo que dizer que a vida não tem sentido. Não é à toa que há muitas vidas sem sentido e vazias buscando ser preenchidas. E encontram em “ilusões” algo para a preencher, mas acaba cedo ou tarde, se dando conta de que não passou de pura ilusão. E você? Durante toda a sua infância você recebeu amor, proteção, educação, e o necessário para viver. Depois, entrando na adolescência e juventude, você ainda recebe esses “bens” de seus pais, e acrescenta-se outros: o conhecimento e o saber escolar. Aos poucos você vai definindo seu lugar no mundo da família, da escola, da praça, da rua, entre as amizades. Vai fazendo descobertas de suas aptidões, de seus dons, e definindo seu papel profissional com o qual manterá e proverá suas necessidades básicas e dos que vierem a depender de você. Ou seja, você vai se moldando as exigências da sociedade nos aspectos do trabalho, do consumo, da molda, da tecnologia, do pensamento, da cultura e dos costumes. Você ficou adultos!

Há jovens que ficaram adultos ainda jovens, outros não tão jovens assim, e outros levam uma vida inteira para descobrir que ficaram adultos.  De uma hora para outra tiveram que “aprender na dura” o significado de “responsabilidade”, de “liberdade”, de “compromisso”, e de “viver”. E aí, buscando seu “lugar social e existencial” correram atrás da felicidade – que pode vir com um desejo saciado; ou com uma profissão de sucesso e realizada; ou um casamento bem-sucedido; ou praticando uma religião…

            Durante essa vivencia e acumulo de experiências você pode adquirir “gostos”, ter “ídolos”, “curtir” coisas, adquirir e praticar bons ou maus “hábitos” e perseguir algum ideal para sua vida. Tudo isso, porém, pode ser feito e ser vivido com ou sem a fé, com ou sem a vivencia de uma pratica religiosa.

Deus? Deus pode ser apenas “deus” e não lhe dizer muito; tanto fez como tanto faz. Você não o desmerece, mas também não vê a sua serventia em sua vida, de modo que, ele não faz lá muita diferença. Você “respeita”, sabe que existe, mas, isso é para quem precisa, se importa com isso ou… bem, Deus está alí, quando for a sua vez, você saberá como lhe dá com isso. Por hora, talvez não faz lá parte de suas pré-ocupações, planos e objetivos. Apenas você respeita-O.

O mesmo se pode dizer da religião. Você talvez não é lá “muito” religioso/a e não tem tempo para isso; ou quem sabe, tem uma religiosidade, é devoto, teme a Deus, mas não curte religião 24 horas. Ou quem sabe, você é um daqueles que quando se trata de religião tem sua “lista de reservas” sobre os que participam da religião, e por isso mesmo prefere “ficar na sua” e viver do seu jeito a fé que professa, a ter que frequentar uma igreja.

            Mas, agindo, vivendo e crendo assim você não é diferente de milhares de pessoas que habitam esse planeta. E todas elas de algum modo pensam ou vivem desse jeito até que, em alguma “esquina” da vida descobre que em sua vida está faltando algo. E que a sentença “nascemos, vivemos e moremos” não faz sentido. E aí começa sua corrida para encontrar a resposta para esse “algo” que está faltando, para preencher esse “vazio existencial”. Muitas são as respostas: um copo, um ídolo, um vício, um hábito, um ideal (ajudar pessoas, fazer alguma coisa), etc.

Nessa corrida, nessa busca você “dá de cara” com uma pessoa que você já conhecia de ouvir dizer, e sabia alguma coisa sobre ela, porém, nunca tinha parado para realmente “ver, ouvir, entender” ela de uma outra maneira, de outro jeito diferente. E aí ela desperta em você a curiosidade, de forma que você vai cada vez mais conhecendo, se apaixonando e se encantado por ela, e quando pensa que já sabia de tudo, tem sempre “um que” a mais, um “mistério” a ser “des-velado” que o encanta cada vez mais, de modo que, n’Ela, você começa a enxergar o mundo, as pessoas, sua vida, com novos olhos… com um olhar diferente. Quando isso acontece, o povo de seus discípulos diz “você teve um encontro pessoal com Ele”, “você viu Jesus”. Ele te fisgou! Você não é mais a mesma pessoa! Tudo passou a ter um novo olhar, um novo sentido na vida.

            É assim que, o Jesus da “religião” e das suas “desconfianças” passa a ter um significado em sua vida. Porém, não é assim que acontece com todos. Cada um/a tem sua história de vida, seu jeito e sua experiência de como o encontrou: uma música, uma pessoa, um acontecimento, uma doença, uma morte, um livro, uma dor, um milagre, um texto, uma oração, um/a santo/a, um desespero, uma esperança, a natureza, uma desilusão, uma promessa, um convite, uma praia… tudo e qualquer coisa pode ser “a isca” para o encontro com Ele. E que encontro desconcertante! Aos poucos, tudo vai ficando intenso, interessante, desconcertante, vislumbrante, maravilhoso. E já não somos mais os mesmos.

            E quem é esse tal Jesus?

            Muitos já falaram dele. Muito já se escreveu sobre ele. Inclusive, há várias “caricaturas” dele por aí… muitos retratos pintados! Há muitos “Jesus” por aí prometendo curas, milagres, mudança de vida, vida farta, emprego, vida estável, segurança, até o céu. Há muitos Jesus “entorpecente” para todos os gostos e situações, oferecido nas praças de ruas e avenidas, mas será que é Jesus?

            O Novo Testamento, escrito autorizado a mais de dois mil anos, nos fala de Jesus. Não desses “Jesus” que vemos por aí, de certos pregadores, mas do Jesus que viveu em Israel lá pelos anos 30,33 d.C. Desse Jesus real, pessoa contextualizada no tempo e no espaço; que nasceu em Belém, que foi imigrante no Egito, passou parte da adolescência e juventude em Nazaré, depois morou em Cafarnaum, se tornou andarilho e peregrino em seu país, vindo a ser martirizado pelos romanos na capital Jerusalém, a mando dos líderes políticos-religiosos do seu tempo, mas que, segundo a fé das testemunhas oculares e de seus discípulos mais íntimos, ressuscitou dando o seu Espírito a quantos n’Ele crer, e que segundo esses mesmos crentes, voltará no tempo marcado pelo Pai para concluir a tarefa lhe dada.

            Esse Jesus, sim, ele faz sentido. Sua existência inquietou e vem inquietando durante séculos a muitos. Sua presença real é sentida preenchendo o vazio de muitos cujo sentido encontrou em sua pessoa, e essas pessoas dão testemunho não de sí, mas d’Ele, como Senhor e Deus.

            E como Jesus é sentido de vida? É questão de fé. Depois de Jesus, a vida agora adquiriu sentido novo: nascemos, crescemos, vivemos, morremos e vivemos de novo e eternamente. Eis, a novidade. Em Jesus a existência encontrou sentido, e nossa vida cotidiana, pelo menos dos crentes n’Ele, encontrou significado.

            E Jesus é de uma grandeza que, a religião e os atos religiosos são pequenos demais para o alcançar; e, no entanto, a nós são necessárias para expressar toda intensidade e densidade de nossa experiência existencial, a partir da experiência mistagógica que como crentes, temos com Ele e d’Ele. Jesus não se explica, se crer. Mas isso não quer dizer que não podemos “pensar” e “falar” de Jesus, pelo contrário, tudo o que dissermos sobre Ele é pouco e ao mesmo tempo é nada comparado com sua grandeza. Porém, o que falamos é sempre limitado e condicionado. E para que, o que dissermos seja testemunho verdadeiro deve ter por base sempre a grande Tradição e a Escritura, aliada a “experiência” da Comunidade de fé, pois só assim nos livramos do perigo “da verdade” e da fabricação de ‘jesus” a nossa imagem e semelhança e de nossas vontades.

            Jesus é um sentido para vida e sua presença histórica, real, no tempo e no espaço, “sentida” pela fé e concretizada na ação de seus ouvintes-praticantes-seguidores dá um significado todo especial ao nosso cotidiano, de modo que “sem Jesus nada somos”.

            Está aberto a essa graça-Jesus sobretudo no cotidiano da vida; na vida comunitária da Igreja; na pessoa do pobre; na fé e na oração; na divina liturgia; na leitura das Escrituras; nos dá um sabor especial. Com Jesus a vida ganha sentido sobretudo em meios aos problemas e no mundo pós-moderno onde impera a falta de sentido da vida, que aparece sob diversos disfarces, com nomes e predicados bastantes sutis e enganadores.

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