Bíblia, diferentes edições, diferentes públicos – V

Por Sebastião Catequista

Este artigo como todos os demais tem sua contextualização contida na introdução (à guisa de, critério de…) do primeiro artigo. É importante que se leia a introdução para melhor compreender sua narrativa. Para ver todas as traduções da Bíblia, confira o link no final deste artigo.

5. Bíblia Pastoral

A Bíblia Pastoral é um capítulo à parte. Traduzida dentro de um contexto eclesial popular de uma Igreja inserida nas bases e em consonância com os anseios populares no contexto de fortalecimento e avivamento da democracia em nosso país (Brasil) que saia de um contexto populista militar, sofreu muitos ataques de grupos e pessoas ligadas a visões mais tradicionais religiosa e até politica mesmo. O ataque e as críticas à Bíblia Pastoral não visava a Bíblia mesmo em sua tradução dos textos originais mas as notas ali contidas, uma vez que, tais notas não visavam um comentário teológico exegético mas sim comentários hermenêuticos na linha de uma reflexão mais sociológica e contextualizada comparando o ontem do povo da Bíblia com o hoje de nossa sociedade contemporânea. Mas mesmo assim as críticas eram e foram injustas por partes desses grupos e pessoas cristãs, pois, não havia erros de teologia e muito menos de doutrina, uma vez que sua contribuição seguindo as intuições do Concilio Vaticano II foi eminentemente pastoral.

Seja como for, em sua primeira tradução tínhamos um texto simples, bem coloquial em consonância com a língua falada por nossa gente atualmente. Nesses anos todos nosso idiomas passou por profundas transformações e essa tradução estava atenta a isto, por isso que caiu no gosto popular e inquietava certas correntes religiosas e políticas em nosso pais.

De modo geral ela possuía boa introdução suscita aos livros e seções. As notas de rodapés eram de boa qualidade e seus conteúdos deixava o leitor esclarecido quanto ao contexto e as narrativas dos textos, bem como fazia o contraponto (atualizava) com a realidade atual em que o leitor estava inserido. A mesma não continha muitas notas paralelas (não era a rigor uma Bíblia de estudos) exceto no que de fato se fazia necessária.

Como todas as traduções modernas, ela trazia consigo excelentes mapas; o calendário litúrgico e algumas edições trouxeram uma tabela dos textos sinóticos dos evangelhos; uma tabela com sugestões dos salmos para diversas ocasiões do cotidiano; o ritual da missa; mas estava ausentes as tabelas de peso e medida, o dicionário de termos afins e a cronologia do tempo. Sua estética dos textos eram perfeita como a Bíblia de Jerusalém.

Seu forte além das notas e da fluidez do texto era o uso do tetragrama sagrado YHWH (JAVÉ) transliterado para o português. Somente a Bíblia de Jerusalém e a Pastoral faziam uso do tetragrama sagrado até bem pouco tempo, quando do aparecimento de outras traduções modernas que também optaram por citar o nome divino, bendito seja, o tetragrama sagrado. Foi através dessas duas traduções que O divino Nome, bendito seja, se tornou conhecido do nosso povo tal como como Ele está no texto em hebraico.

O livro dos Salmos é um encanto a parte. Seu texto de uma poesia e fluidez estimulava a uma leitura devocional muito intensa. De uma clareza sem igual “perde” apenas para a tradução da BJ se em certo sentido fomos equiparar. Mas isso é sem cabimento! Também sua numeração segue a convenção das traduções modernas quanto ao o uso da numeração hebraica para os salmos. A numeração fora dos parênteses é a numeração latina litúrgica. As notas de rodapés abaixo do texto como é comum em muitas traduções dava um ar elegante à mesma.

O que podemos averiguar pelo testemunho das pessoas e do que dizem por aí, somente duas Bíblias Católicas foram realmente “populares” e caíram nas graças e nas mãos do povo: a Bíblia Ave Maria e a Bíblia Pastoral, ambas as mais vendidas. Mas isso é muito relativo sobretudo quando comparamos os motivos e contextos em que as duas estão inseridas. De qualquer modo, elas são patrimônio da Igreja e do Povo brasileiro e fizeram e contribuíram em muito para a história da Evangelização e difusão da Palavra no meio do Povo, sobretudo do povo dos pobres.

Recentemente houve uma nova tradução da Bíblia Pastoral. De repente passamos a ter duas traduções diferentes. Mas por pouco tempo! Há quem diga que assim aconteceu por motivos de discordância no projeto de revisão da primeira e que isso gerou uma nova tradução. Mas nova mesmo! Seja como for, recentemente a editora optou por encerrar a edição e publicação da primeira e apostar na publicação e aceitação do público para a segunda que ao que parece, veio para ficar definitivamente no lugar da outra.

E o que traz essa nova edição que a diferencia da primeira? Em primeiro lugar é bom dizer que, tanto uma como a outra foram e são traduzidas dos originais hebraico, aramaico e grego de boa qualidade. Quanto a isto não há dúvida. Mas temos diferenças significativas no texto, sobretudo quanto aos pronomes de tratamento sobretudo os pessoais. Outras mudanças significativas são relativas ao português que na nova tradução é um pouco mais difícil se comparado com a primeira conforme as novas mudanças da língua em nosso país; também os títulos das narrativas e textos que como as traduções modernas são descritivos o mesmo acontece nessa edição enquanto na outra tradução primeira eram interpretativos facilitando a compreensão do texto em sua reflexão; nesse sentido de um português “clássico” o livro dos Salmos em comparação com outras traduções modernas saiu perdendo. Talvez o critério de tradução tenha sido que o texto levasse em consideração o jeito mais peculiar da cultura do homem bíblico e do nosso idioma mais refinado se comparado com as diferentes tonalidades de nossa língua atualmente. Infelizmente em tempos de pós-modernidade nossa língua materna tem sido flexibilizada demais e a cada instante aparece termos, palavras e ressignificados de umas tantas outras mais que dificulta até para um trabalho lindo como esse que é a tradução da Bíblia. Não sei… fica apenas o palpite quanto a tradução do livro dos Salmos. Achei que o texto não fluiu como percebi em outras traduções, está mais difícil e menos fluído á nossa mentalidade moderna. Nesse quesito, penso que o livro dos Salmos perdeu pontos. Mas isso não tira o brilho do mesmo e nem o mérito de seu tradutor, até porque, como já frisei tantas vezes, isto é muito de gosto de cada um.

Quanto as introduções aos livros e as seções, nessa nova tradução os conteúdos estão bem atualizados sobretudo quanto a nova onda de descobertas das ciências modernas em consonância com os avanços dos trabalhos arqueológicos e certo método de leitura da Bíblia em nosso país. E isto é bem visível nas notas de rodapés que mesmo sendo de uma teologia bíblica refinada como se diz no popular, são bem mais comentários bíblicos teológicos do que pastoral na linha da primeira edição e pelo qual foi muito criticada. Essa não segue a mesma linha de comentário da primeira tradução; e nem devia, pois estamos em outro momento diferente da história brasileira apesar dos problemas se terem agravados e novos desafios se impõe que não foram previstos ou estavam muito incipientes quando da primeira tradução. Quanto aos paralelos é quase inexistentes também. Uns aqui outros acolá só onde de fato se faz necessário e mesmo assim estão dentro das notas comentadas. Nesse sentido ela é muito pobre de paralelos.

É significativo também que para a leitura do tetragrama sagrado, o substantivo próprio do nome divino ficou Javé mesmo – transliteração aportuguesada de YHWH. Ponto para a tradução e seus tradutores.

Ainda falando do livro dos Salmos, a estética das notas e paralelos fica ao lado do texto dos salmos, nesta segunda tradução e isto é uma novidade. Possa ser que alguns leitores gostem, mas a primeira vista dá uma sensação de dispersão na hora da leitura do salmo. Mas isto vai do gosto de cada um.

No geral, essa tradução também traz mapas, cronologia do tempo, o calendário litúrgico, a tabela dos salmos para diversas ocasiões cotidianas; mas, não traz a tabela de medidas, peso, moedas, dicionário das principais palavras que de certo modo mereciam atenção ou conduziam a temas específico da cultura bíblica. É lamentável que outros recursos não estejam aí presentes. Deixou a desejar para uma tradução que se candidata e nasceu com a fama de “Bíblia Pastoral”.

Biblia de Jerusalém – I

Bíblia da CNBB – II

Bíblia Vozes – III

Bíblia do Peregrino – IV

Bilbia Pastoral – V

A Bíblia – VI

Biblia Sagrada Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH (Paulinas) – VII

Bíblia Sagrada Ave Maria – VIII

Bíblia Sagrada de Aparecida – IX

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