Escolhidos e Chamados: a vocação leiga na vida da Igreja

Por Sebastião Catequista

            Vocação é chamado. Todo chamado é uma escolha e a resposta de quem foi escolhido e chamado é muito pessoal. Nossa primeira vocação é o chamado à vida. Depois, a sermos gente, e na sociedade dos povos a sermos cristãos. No meio do povo cristão há muitas vocações: todas elas com uma tarefa específica em virtude do plano salvífico de Deus. É Deus quem nos escolhe, nos chama e nos envia.

            E como acontece o chamado? Ele tem várias formas: uma situação, uma pessoa, um acontecimento, um convite feito por alguém para uma tarefa coletiva, ou mesmo algo inusitado e excepcional. Deus é muito criativo!

Ele usa os víeis de nossa própria condição. Do lugar em que vivemos e estamos inseridos.

A escolha e o chamado são uma graça de Deus inerente a nossa condição pessoal, individual e coletiva. Não depende dos nossos próprios méritos, mas unicamente da misericórdia de Deus.  E quem responde ao chamado, Deus lhe capacita, concedendo seus dons, seus carismas. Quando há uma resposta positiva a esse chamado e escolha, nasce a vocação. E para essa vocação, o Espirito capacita.

A vocação é sempre algo individual a serviço e para o coletivo. Quem é enviado em sua pequenez, em sua insegurança, e apesar de seus pecados recebe uma “força” e “habilidades” que nem imaginava ter ou fazer. É como diz a parábola dos talentos no evangelho. E por esses talentos será cobrado, é o preço da escolha e do chamado: produzir frutos.

Como povo de Deus no meio dos povos somos chamados a dar testemunho com nossa vida o projeto de Deus. Ser povo no meio do povo é um projeto de Deus (Cf. Dt 7,6-8), e a cartilha desse projeto é a Palavra. Sobretudo a Palavra encarnada, Jesus (Cf. Jo 1, 12-14).

Todos nós batizados/as somos povo de Deus. É o batismo que nos incorpora nesse projeto. E esse chamado é graça de Deus em Jesus Cristo (cf. 1Pd 2,9-10). Somos povo de sua real estirpe, nação sacerdotal, povo de profetas para no mundo anunciar o Reino de Deus.

            Não é qualquer um que é ou faz parte do povo de Deus. O batismo é a porta de entrada, porém, mesmo sendo batizado precisa de algo mais: precisa escutar o chamado, tome consciência e aceitar ser povo. E uma vez que a pessoa aí encontre seu lugar se torna um com o coletivo, se torna povo.

E onde entra os leigos e leigas nessa história? O laicato é povo no meio do povo. É o que nos remete a palavra “leigo”: povo no meio do povo. Somos como o sal que dá gosto, dá sentido, ou como a luz que ilumina, para um fim, uma direção.

            A condição do laicato nasce em termos modernos sobretudo a partir do Vaticano II como uma “consciência de povo no meio do povo” ressignificando o sentido da palavra “leigo/a” que durante séculos tem conotação pejorativa.

            Entretanto, quando se trata da escolha e do chamado leigo/a ele é sempre individual com sentindo coletivo. Quando Deus nos chama, chama a indivíduos, chama pessoas, pessoas que vão fazer a diferença no meio coletivo, com o coletivo e para o coletivo, em vista de algo maior.

            A vocação do laicato se dá no meio do povo de Deus, dentro do povo de Deus para uma tarefa especifica no meio do povo. Não é um privilégio, não é um status, não é uma classe, não é uma ordem. A vocação leiga nasce de uma consciência aberta ao chamado de Deus para no meio do povo ser semente, ser sal, ser luz. E aí cada um, cada uma dos chamados e chamadas desempenha sua tarefa leiga para qual é chamado, chamada.

            A tarefa vocacional para qual é chamado o laicato não o torna “alguém especial”, mas apenas um “servidor do reino” em nada se distinguido dos demais membros desse povo. Possa ser que alguns tenham por suas “qualidades” de lideranças ou algum “dom especial” ser mais visibilizados que outros, mas isso não o torna “especial” de tal modo que esteja acima ou seja mais que os outros, sendo diferente dos demais. Isso nunca. Apenas evidencia e lhe dá maiores responsabilidades e o torna mais vulnerável às fraquezas e a percalços do caminho, da vivencia da vocação.

            Toda vocação é irresistível e passa por conflitos. Conflitos de ordem pessoal, familiar, religioso e social. A dimensão desses conflitos por parte do vocacionado depende da grandeza para qual foi chamado. Antes da resposta, pelas muitas histórias, há sempre uma luta interior externalizada pelos conflitos exterior, geralmente familiar e social, do mundo em que está inserido o vocacionado. Uma vez vencida essas “barreiras” se tem como certo uma vocação concretizada em curso. Contudo, durante a vivencia da vocação, do chamado, haverá permanentemente o conflito. Porque no conflito se dá a perseverança, a clareza da missão, os frutos daí decorrente, pois, o sofrimento também faz parte da vocação. Veja nesse sentido os profetas: Elias, Jeremias, Oséias, Oscar Romero, dom Helder Câmara, dom Pedro Casaldaliga, Madre Teresa de Calcutá…

            Ao ser chamado para sermos cristãos, e dentro do coletivo do povo cristão, somos o povo dos leigos e leigas, assumimos uma vocação cujo sentido está em dá sentido através do testemunho de vida pelo nosso engajamento pastoral na vida do povo. Evidentemente que ser leigo/a não é uma “classe” e muitos menos, um “status” nem na Igreja e nem no mundo, apenas assumimos uma “consciência” decorrente de que, “somos povo no meio do povo” como agente servidor como numa engrenagem. Dizendo de outro modo: somos uma consciência viva coletiva que leva o povo a reagir diante do chamado e da escolha de Deus perante seu plano de amor, no sentido de dizer: “Vamos! Vamos! Avante! Juntos podemos! Juntos somos mais! ”. Um animador/a do próprio povo no meio do povo. Não somos mais que o povo, nem nos distinguimos como tal, não no sentido de visibilidade como uma pessoa/líder pública ou coisa do tipo. Individualmente alguns irmãos e irmãs são distintos e distinguidos por “suas qualidades pessoais” de santidade, mas que, isso não o difere do coletivo dentro do povo de Deus. Já o frisamos!

            Escolhidos e chamados seja como individuo, seja como povo dos leigos/as no meio do próprio povo de Deus, tem uma conotação toda especial: uma parceria com Deus para algo maior. E é sempre Deus quem chama e a resposta é simples, livre, pessoal e consensual.

            Ser leigo/a de modo especial nos últimos tempos, é uma vocação dentro do povo de Deus tanto quanto qualquer outra; e essa vocação encontra seu maior sentido de ser no leigo da tribo de Judá, Jesus de Nazaré, o crucificado vivente.

Bibliografia consultada:

– Estudos da CNBB 45: Leigos e participação na igreja. São Paulo, Paulinas,1986.

– Estudos da CNBB 47: Os leigos na igreja e no mundo. São Paulo, Paulinas,1987.

– Cristãos Leigos e Leigas  a Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo. Documentos da CNBB 105. São Paulo, Edições CNBB, 2016.

Comblin, José: Cristãos rumo ao século XXI – nova caminhada de libertação. S. Paulo, Paulus, 1996.

Comblin, Jose: O povo de Deus. São Paulo, Paulus,2002.

– Blank, Renold. Ovelha ou protagonista? A Igreja e a nova autonomia do laicato no século 21. São Paulo, Paulus 2006.

Para provocar reflexão e diálogo:

  1. O que é vocação para você? Como ele acontece?
  2. Como foi seu chamado vocacional? Quais as suas influências?
  3. Como se deu “os conflitos” de sua vocação?
  4. Como você compreende o trabalho do seu grupo pastoral: uma vocação? Uma necessidade? Um pedido do padre?

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