Neste artigo, trazemos alguns elementos e informações para ajudar na leitura do evangelho de Mateus contextualizado. Boa leitura.
- Mateus e seu Evangelho
Mateus também conhecido por Levi (9,9; Mc 2,14; Lc 5,27-29) é cobrador de impostos, considerado pelos fariseus e doutores como pecador. Seu nome em hebraico significa: “Dom de Deus”. Com este significado entendemos que a comunidade é um dom de Deus para os pobres, perseguidos, humilhados, doentes, pecadores e marginalizados.
Mateus escreveu seu Evangelho lá pelos anos 85/90 d.C, quando as comunidades enfrentavam dificuldades de ordem político, social e cultural. Sua prática nasceu da releitura das Escrituras judaica a luz da pessoa de Jesus.
- Contexto das Comunidades
Eram os anos 66 d.C, a Palestina estava sob o domínio do império romano já a bastante tempo. Por todos os cantos há revoltas dos grupos essênicos, zelotas, saduceus e marginalizados. No ano 70 d.C Jerusalém foi destruída, o templo arrasado, não tem mais sacrifícios diários, os judeus estão dispersos por todo império, nas cidades e aldeias da região palestinense, Síria e Egito.
Diante desse contexto os judeus piedosos liderados pelo grupo dos fariseus se reúnem nas sinagogas, organizam suas vidas e religião em torno da Torá, a lei. Dentro de si estão confusos, humilhados, sem a terra santa, sem o templo, sem lei. Para estes, um grupo parece ser o culpado de tanta desgraças: os judeus que não vivem a lei, os pecadores… cristãos.
- Dificuldades, desafios e esperanças da Comunidade
A comunidade de Mateus tem judeus cristãos, tem cristãos que não são judeus, mulheres e homens trabalhadores, desempregados, doentes, pobres, gente com as mais diversas experiências de vida. Eram todos cristãos que optando por Jesus de Nazaré foram expulsos das sinagogas e perseguidos pelos próprios judeus/fariseus. Liam as Escrituras judaicas a luz da pessoa e prática de Jesus, tendo-o como o messias esperado, o novo Moisés, o Deus conosco.
A comunidade de Mateus enfrentava dificuldades como: leitura apegada a letra da Lei (5,17-48); falsa piedade (6,1-8); apego ao bem estar (6,19-24); falso profetismo (7,15-20); intriga dos judeus cristãos com os cristãos não judeus (8,5-13); os que falavam de paz, mas eram falsos e medrosos (10,34-36); brigas pelo poder dentro da comunidade (10,37-39); os escândalos (18,1-11); gente que fala de justiça mas faz o contrário (7,21-27); gente que minava a unidade da família (19,1-9); gente que vivia atormentada com a vinda de Cristo (25); e gente desanimada (28,1-10).
Mas a comunidade soube fazer seu caminho a luz da prática de Jesus. Buscou sua identidade de “Dom de Deus”. Resistiu as dificuldades, lendo a vida nas Escrituras, e as Escrituras na vida, sob a prática e a pessoa de Jesus. Dessa forma tornou-se uma igreja consciente da presença do Senhor (18,18-20); uma igreja missionária (28,16-20); vigilante (25,13); fraterna e misericordiosa (18,15-17); uma igreja menos legalista; mais acolhedora e partilhadora (7,12; 9,10-13; 14,13-21); uma igreja corajosa, aberta; uma igreja das bem-aventuranças (5,1-12).
A comunidade de Mateus aos poucos foi se tornando dom de Deus para os que se achegavam ao reino e buscava justiça. Sua fé em Jesus Deus-conosco, alimentava sua prática que tinha os montes e as relvas (5,1. 8,1); as casas (8,14; 9,10s); os locais de trabalho (4,18.21; 13, 1-2) como lugares de pregação e testemunho do projeto de Deus.
- Esquema de Mt
Podemos perceber no evangelho de Mateus a seguinte organização, segundo o esquema da Bíblia de Jerusalém.
- O nascimento e a infância de Jesus: 1,1-2,23;
- A promulgação do Reino dos Céus: 3,17,29
2.1. Parte narrativa: 3,1-4,25;
2.2. Discurso: O sermão sobre a montanha: 5,1-7,29;
- A pregação do Reino dos Céus: 8-10;
3.1. Parte narrativa: Dez milagres: 8-9;
3.2. Discurso apostólico: 10;
- O mistério do Reino dos céus: 11-13,52;
4.1. Parte narrativa: 11-12;
4.2. Discursos em parábolas: 13,1-52;
- A Igreja, primícias do Reino dos Céus: 13,53-18;
5.1. Parte narrativa: 13,53-17;
5.2. Discurso eclesiástico: 18
- O advento próximo do Reino dos Céus:19-25;
6.1. Parte narrativa: 19-23;
6.2. Discurso escatológico: 24-25;
- A paixão e a ressurreição: 26-28.
- Conclusão
A comunidade de Mateus conhecia a caminhada das comunidades de Paulo, Lucas e Marcos. Com muita coragem e discernimento, animada por elas, não se fechou em si mesma, mas motivada pela palavra e pela pessoa e obra de Jesus buscou sua identidade respondendo ao chamado do Pai, que ouve os pequenos e marginalizados e revela seu plano de amor (11,25-27).
Ao contrário das comunidades judaicas, a comunidade de Mateus conseguiu dar passos, criar uma prática que naquela situação concreta fortalecia o projeto do reino. Houve sonhos, rupturas, conversão e coragem para fazer uma comunidade aberta e fiel em meio às perseguições. Uma comunidade consciente de sua missão: ser justa, misericordiosa, anunciante do evangelho de Jesus Cristo, o Emanuel – Deus conosco.
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