A oração dos Salmos

           salmos_oração Os Salmos são a oração do povo de Deus, por excelência. De que trata os salmos?  Da vida e da morte; do cotidiano; do trabalho; dos afazeres do lar; das lutas e derrotas; das conquistas e vitórias; do ódio e do amor; da vingança e da justiça; da injustiça e proteção; da esperança e da eternidade; do nascimento e do cuidado com a vida; com a natureza; do homem e da mulher; da criança, do jovem e do idoso; as dores e de Deus; das incertezas e da perenidade.

            Não há nada da vida humana que não esteja contemplado nos salmos. Todo perceber, sentir e existir aí está contido carregado de sentimentos, sonhos, utopias e esperanças. Os salmos são por assim dizer a alma, o coração da espiritualidade do povo da Bíblia. E tem padroeiro! David! Seu maior compositor. E Jesus, seu maior e melhor cantor. E só por isso já é argumento suficiente para dar razões do porquê rezamos os salmos na espiritualidade cristã.

            Para fins de entrosamento com os salmos, poderíamos então nos perguntar: Como pensa e age o homem e a mulher nos salmos? Dizendo de outro modo: Qual a “antropologia bíblica” dos salmos?

            O homem e a mulher salmista é um ser orante muito intenso, poético com a fé à flor da pele. É um “ser precisado de Deus” não como um fanático; muito menos como um coitadinho alienado religioso; ou um fundamentalista “doente” por Deus, isso nunca. Faz parte de sua “condição existencial”, isso sim, de sua natureza “precisar” de Deus. Isso não é uma negativa ou um valor em si mesmo como se adquirir-se ou pudesse perder, não, é apenas parte constitucional, visceral de sua vida. Precisar de Deus constitui o “ser” de sua vida. É como viver e respirar, dormir, comer, trabalhar, sonhar, ter projeto de vida…sentido. Sua vida é do levantar ao deitar basicamente “viver” em/de Deus.

            O tempo nesse sentido, tem um valor todo especial. Ele, o tempo, marca o ritmo orante de sua vida; de sua oração. A cada três horas ele pára suas atividades para rezar. O tempo e a oração são duas expressões de fé e de cidadania escatológica. Para ele o tempo só tem sentido dessa forma; e a oração é o meio pelo qual se chega ao sentido da vida que é Deus mesmo.

            Poderíamos percorrer os salmos agrupando-os por diversos artifícios: literário; teológico; contexto histórico; litúrgico; etc., porém, aqui, preferimos enumerar alguns por temas cotidiano mesmo, próximo a algumas das nossas realidades do homem moderno. Vá à sua Bíblia e consulte alguns desses salmos.

1 – Salmos de intimidade com Deus. Nesses salmos veja como o salmista se refere a Deus, como o chama, quais as suas motivações para se dirigir a Deus. Que ideia de Deus e que sentimentos o salmista nos transmite? De que situações ele fala a Deus?

— Salmos: 34; 63;103; 138; 139.

2 – Salmos de celebração da vida, do amor. Nesses salmos o salmista eleva sua oração como um canto de louvor, de reconhecimento, de contemplação e adoração a Deus pelos seus feitos na vida, na história e na criação. Veja quais sentimentos está expresso no texto; quais as suas motivações; e objeto de sua oração é posto em evidencia no trato com Deus.

— Salmos: 19,1-7; 33; 65; 66; 104;136

3 – A fragilidade da vida humana e seus conflitos. Nesses salmos o salmista expõe sua fragilidade humana e seus conflitos existenciais, sociais decorrente da falta de justiça ou de uma situação mais violenta e vulnerável por parte de seus inimigos (uma tribo, ladrões, povos inimigos da fronteira, um litígio com vizinhos…) ou dos próprios governantes. Situado os salmos em seu contexto, quais sentimentos, motivações, e esperanças transparece nos textos?

— Salmo: 1; 2; 3; 4; 5; 40; 55; 61;70

4 – Pecados e injustiças. O salmista nestes salmos expressa seus sentimentos tanto de culpado por algum mal causado a outrem, como contra Deus mesmo pela quebra da aliança, ou contra seu próprio povo no contexto social. Fala de sua fragilidade, e se reconhece pecador, porém, com um diferencial: não fica remoendo a culpa, mas se concentra na misericórdia de Deus e sua justiça. Veja quais os motivos de suas queixas e pedidos e, quais pecados ele se refere. Que imagem de Deus transparece nestes salmos?

— Salmos: 13; 16; 27; 28; 30; 31; 32; 51; 103.

5 – A Lei, o templo, as peregrinações, o rei. Aqui o salmista vive seu momento coletivo e cívico. Ele expressa seus sentimentos de alegria, religiosidade popular, de festa e de encontro com Deus e com o povo através das peregrinações, do amor a Lei e o Templo, bem como ao rei como símbolo máximo de unidade do seu povo. Veja quais sentimentos e sentido o salmista demostra nesses salmos.

— Salmos: 15; 19,8-15; 20; 21; 29; 47; 66; 87; 119

            Como podemos ver, os Salmos são a oração privilegiada do povo de Deus. Podemos usar os salmos em nossa vida pessoal e em nossa catequese. O desafio é: como fazer isso. Aproposito, seria interessante por exemplo, nos acostumar rezar os salmos anotando aqueles versos que mais toca a nossa realidade pessoal no contexto em que estamos inseridos. Dessa forma, vamos reescrevendo os salmos segundo a condição da nossa vida. Eles vão sendo aplicados à nossa vida. Será nosso livro de oração, nosso devocionário, e com o tempo, nossa vida mesmo, de modo que ao rezá-lo não será mais um livro, um texto, mas nossa vida em verso e poesia, existencial e espiritual.

            De outro modo, seria interessante na catequese com nossos catequizandos fazer o mesmo. Ter um espaço em que acostumássemos os nossos catequizandos à oração dos salmos adaptando-o à sua realidade mais básica. Nesse sentido, ajudaria cartazes com paisagens e fatos do cotidiano infantil com os salmos escritos (como fazemos com os cartões que existem por aí) de modo que o grupo pudesse recitar em conjunto. Poderíamos distribuir alguns salmos entre os catequizandos e pedir para que cada um usasse sua criatividade construindo sua história de vida do que viveu durante a semana a partir daquele texto. Poderíamos então questionar: O que tem a ver com sua vida? Qual a frase ou palavra mais forte que expressa seus sentimentos? Que ideia (desenho, musica, cor, retrato) poderia representar esse sentimento? Então, poderíamos trabalhar gestos (ajoelhar, louvar, pedir, agradecer, dançar, cantar) que também demostrasse esse sentimento, que concretizasse essa ideia.

            Os salmos não foram escritos para rezar só em encontros ou nas liturgias da comunidade, mas ele é a espinha dorsal da vida orante, ele é o instrumento pelo qual exprimimos nossas necessidades básicas visceral, espirituais e concretas mesmos. O problema é que nunca fomos ensinados, educados, trabalhados para isso, de modo que os salmos parecem mais coisa de religião, de padre, frade e freira…. coisas de missas, velórios e formaturas. Mas os salmos são bem mais que isso: é a vida mesmo em oração diante de Deus.

            Podemos mudar essa “ideia negativa” de ver e usar os salmos. A catequese tem uma grande tarefa. O importante é dá o primeiro passo. Precisamos de novo reescrever os salmos na vida, na nossa vida… para fazemos e escrevemos os nossos salmos!

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