Por: Sebastião Catequista
Barulhos, ruídos, são aqueles sons que a depender do ambiente e do que ou de quem os produzem, causam aos ouvidos e ao ambiente e até as relações, mal estar ou perturbação da ordem.
Esse artigo, não é uma crítica sobre o barulho nas dependências dos espaços sagrados, mas uma constatação e uma provocação a pensar sobre essa realidade.
É perceptível nos espaços sagrados (templos, igrejas…) que durante o seu uso sobretudo nos momentos que antecede as celebrações e seus rituais, darmos de cara com um barulho, um ruído, que acaba por minar toda e qualquer iniciativa orante pessoal mais profunda no curto espaço de tempo. Esses ruídos ou barulhos advém das conversas entre as pessoas como forma de acolhida umas as outras. Esse barulho não ajuda numa predisposição para um momento interior orante e de contato com o sagrado. E as pessoas aí presentes por “certa ingenuidade ou inocência” não percebem isso com tanta clareza e consciência. Não há uma educação para estar nesse ambiente e isto nos remete, por exemplo, ao estilo da vida moderna.
O estilo de vida na atual conjuntura em que vivemos é barulhento por si, é frenético, agitado, nervoso, líquido. Vivemos o tempo todo para “ocupar o tempo”, não deixar “espaço” para o silêncio, para “o nada” mesmo. Temos dificuldades com o “não fazer nada” numa sociedade altamente tecnológica e barulhenta. O silêncio não constitui uma valor em si mesmo, mas, tem valor de “coisificação”, de “utilitário” para o refazimento das forças no dia a dia. Enquanto “valor primordial e essencial” que dá sentido ou nos remete a pratica da vida interior ele está ausente da vida das pessoas e do espaço sagrado. E pensar e praticar o silêncio nesse sentido para muitos é assustador! Sobretudo no espaço sagrado.
Quando falamos de “vida interior” isso nos remete de certo modo à religião. O ser humano por sua origem é religioso. Faz parte de sua essência. E isso explica o tanto de religiões que há no mundo com suas práticas, rituais, crenças, símbolos e narrativas. Em todas elas há algo em comum: a necessidade do transcendente e o cultivo da vida mais profunda, a vida interior. Aí o ser humano se encontra e encontra o caminho que o leva ao sentido da existência, que o leva a uma experiência única, indizível, algo que muitas vezes não pode ser exprimido por palavras e nem por sentimentos. É algo inaudito! E é bem aqui, que se situa a prática e a experiência do silêncio.
Ao viver a experiência religiosa numa comunidade e ao estar no espaço sagrado como os templos ou igrejas, a pessoa é provocada a exercitar e praticar momentos de profunda unidade interior consigo mesmas e conexão com a divindade, e para isto, de certo modo, é imprescindível a pratica do silêncio sobretudo nesses ambientes. Mas não é o caso que podemos constatar por aí. Há muito ruídos que impedem algo assim. Muitos desses ruídos são provocados pelas pessoas sob o pretexto de se acolherem mutuamente naquele espaço. Diálogos vem, diálogos vão e o que sobra é que temos pessoas agitadas e “menos orantes” conectadas naquele momento consigo mesmas, com a divindade e com o que ali foram buscar. Não percebem, por exemplo, que ao adentrar no espaço sagrado ele foi de algum modo pensado para esse momento: para a pratica interior, para o culto a divindade, e para as relações fraternas. Mas há formas e formas de ali se comportar e vivenciar essas relações. As igrejas foram “pensadas” para “respirar” o “sagrado”, a fé com sua arte, geometria, imagens, e símbolos. Estar nesse espaço sagrado e não enxergar isso é de uma miopia muito grande da parte dos que ali frequentam.
Via de regra e de costumes, as igrejas enquanto templos, são lugares para a oração, para o nosso momento com o sagrado e conosco mesmo. Aí o comportamento não deveria ser de barulho, de ruídos. As relações entre as pessoas nesse ambiente deveria ser leve, calma, tranquila, suave, serena, para ajudar compor o cenário simbólico e mental que predisponha à oração, ao cultivo da vida interior. Mas, é o contrário que se ver.
O que tudo isso nos revela? Que as pessoas não despertaram para esse nível de consciência. A vida moderna nos impõe um estilo de vida e da religião light, “leve”, “liquido” “coisificado”. O cultivo de uma vida mais interiorizada, e de certos hábitos e valores como o silêncio, a meditação, a tranquilidade, a serenidade, o cultivo do tempo como “o nada”, é algo inconcebível, é “para oriental”. Temos dificuldades de acessar um “eu mais profundo” porque medos, angústias, memórias, podem vir a tona e nos paralisar, nos deixar vulnerável às lagrimas e revelar um outro lado de nós mesmos que nos assusta e não queremos ver, sentir, enfrentar. Parece que se acostumar ao silencio e a prática da meditação orante é de certo modo um desperdício de tempo. E as pessoas fogem do silêncio porque ele é assustador. Nas igrejas as pessoas estão ali pelo culto e pela necessidade de algum modo preencher o seu “tempo fútil” com algo de “útil”. É preciso quase um milagre para as pessoas pararem e calarem simplesmente. Paira no “ar” um “medo” que as apavoram. Olhando por esse ângulo, é um milagre elas estarem ali e de algum modo rezarem.
O silêncio para quem não está acostumado de fato é assustador, mas também é curador, é orante, é restaurador, regenerador. Por outro lado, seu inimigo maior é o ruído, o barulho. Porque o ruido abafa o silêncio, agita o coração, nos expulsa de nós mesmos e nos afasta do sagrado e da divindade.
Em nossas igrejas/templos seria tão bom se houvesse mais silêncio e pessoas interiorizadas. Que as pessoas que ali vão, fossem buscar um encontro mais profundo consigo mesmas e nesse espaço sagrado, com a divindade. Isto evidentemente não exclui o diálogo e as relações mas que se possa ter a consciência de que naquele espaço e naquele tempo, o da celebração e rituais, tais hábitos estejam em função dessa prática e dessa ideia. Penso que isso traria a todos uma qualidade de vida, de sensibilidade, de fé, e de presença mesmo, muito interessante.
Bem, fica aí a provocação! Como você vê essa realidade? O que podemos fazer para melhor explorar esse espaço sagrado e dá uma outra conotação as relações ali vividas, sobretudo, nos momentos celebrativos?
Gostei muito desse assunto,pois mim fez refletir,mas pra o espaço sagrado,e menos pra espaço de encontro de irmaos .No mundo em que vivemos ,com tanta tecnologia e uma ansiedade nesse mundo de intelnaltas,saber separa o que do que,sem um querer conhecer o espaço sagrado, é contraditorio.lendo todo esse texto, a princípio mim senti mais dentro de um Mosteiro do que em Nossas Igrejas.Foi ótimo ;mim fez parar pra pensar e refletir,já é um começo.