A Prática da Invocação do Nome

Continuação do artigo anterior: A Forma de Invocação  do Nome.

“Esperarei em teu Nome” (SI 52,9)

jesus6. A invocação do Nome pode ser praticada em qualquer lugar e a qualquer momento. Podemos pronunciar o Nome de Jesus nas ruas, no local de nosso trabalho, em nosso quarto, na Igreja etc. Podemos repetir o Nome enquanto andamos. Além do uso livre do Nome, não determinado ou limitado por alguma regra, parece-nos indicado consagrar certos momentos e locais à invocação “regular” do Nome.

Quem estiver adiantado nesta forma de oração pode prescindir de tais cuidados. Entretanto constituem condição quase necessária para os principiantes.

 7. Se reservarmos diariamente certo tempo à invocação do Nome (além da invocação “livre” que deveria ser feita com a maior frequência possível), esta deveria ser praticada – se as circunstâncias o permitirem – em local isolado e tranquilo.

“Tu, quando orares, entra em teu aposento e, fechando a porta, ora a Teu Pai ocultamente” (Mt 6,6).

A postura corporal não importa muito. Pode-se caminhar, estar sentado, recostado ou de joelhos. A melhor postura é a que permite maior quietude física e concentração profunda. Pode servir de ajuda uma atitude física que expresse humildade e adoração.

 8.  Antes de começar a pronunciar o Nome de Jesus, estabeleça paz e recolhimento no seu interior e peça inspiração e guia ao Espírito Santo. “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor se não for pelo Espírito Santo” (ICor 12,3). O Nome de Jesus não pode realmente entrar em um coração que não esteja pleno pelo sopro purificador e pela chama do Espírito Santo. O próprio Es-, pírito soprará e acenderá em nós o Nome do Filho.

 9. Então simplesmente comece. Para caminhar temos que dar o primeiro passo; para nadar precisamos nos atirar às águas. Ocorre o mesmo com a invocação do Nome. Comece a pronunciá-lo com adoração e amor. Apegue-se a ele. Repita-o. Não pense que está invocando o Nome: pense apenas no próprio Cristo. Pronuncie seu Nome lenta, suave e serenamente.

 10. Um erro comum aos principiantes consiste em associar a invocação do Santo Nome à intensidade profunda ou emoção. Tentam pronunciá-lo com grande vigor. Mas o Nome de Jesus não deve ser gritado ou formulado com violência, nem mesmo interiormente. Ao ser ordenado a Elias que se apresentasse diante do Senhor, houve um vento forte e impetuoso, mas o Senhor não estava no vento; e após o vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; e após o terremoto um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. Após o fogo veio o sussurro de uma brisa suave. “E foi assim que Elias, ao ouví-lo, cobriu sua face com o manto, saiu e pos-se à entrada da gruta…” (lRs 19,13).

Esforço árduo e busca de intensidade serão em vão. A medida que repetir o Santo Nome, reúna ao redor dele, serenamente, pouco a pouco, seus pensamentos, sentimentos e vontade, centralize nele todo o seu ser. Deixe o Nome penetrar em sua alma como uma gota de óleo se expande e impregna um tecido. Não deixe escapar nada de seu ser. Entregue seu ser completo e encerre-o no Nome.

11. Mesmo no próprio ato de invocação do Nome, sua repetição literal não deveria ser contínua. O Nome pronunciado poderia extender-se e prolongar-se por segundos ou minutos de repouso e atenção silenciosa. A repetição do Nome pode ser comparada ao bater de asas pelo qual um pássaro se eleva no ar. A invocação nunca deve ser trabalhosa, forçada ou apressada, nem recordar violento bater de asas. Deve ser um movimento suave, livre e – conferindo à palavra seu significado mais profundo – gracioso. Ao alcançar a altura desejada, o pássaro desliza em seu voo e apenas bate suas asas de vez em quando a fim de permanecer no ar. Assim, a alma, tendo atingido o pensamento de Jesus e plena de sua recordação pode interromper a repetição do Nome e descansar em Nosso Senhor. A repetição será retomada apenas quando outros pensamentos ameaçarem afastar o de Jesus. Então, a invocação começará outra vez a fim de ganhar novo ímpeto.

 12. Continue esta invocação pelo tempo que desejar ou puder. A oração é naturalmente interrompida pelo cansaço. Não insista. Mas retome-a a qualquer momento, onde quer que esteja, ao sentir-se inclinado a isso. A seu devido tempo descobrirá que o Nome de Jesus virá espontaneamente a seus lábios e quase continuamente estará presente em sua mente, de forma tranquila e latente. Mesmo seu sono estará impregnado com o Nome e a memória de Jesus. “Eu dormia mas meu coração velava” (Ct 5,2).

 13. Quando estamos ocupados na invocação do Nome, é natural que tenhamos esperança e procuremos atingir algum resultado “positivo” e “tangível”, isto é, sentir que estabelecemos um contato real com a pessoa de Nosso Senhor: “Se eu apenas tocar sua veste ficarei curada” (Mt 9,21). Esta feliz experiência é o cume desejado da invocação do Nome: “Eu não te deixarei se não me abençoares” (Gn 32,27). Devemos, contudo, evitar o anelo ansioso por estas experiências: a emoção religiosa pode facilmente tornar-se um disfarce de uma forma perigosa de avareza e sensualidade. Não pensemos que se passamos certo tempo invocando o Nome sem “sentir” nada, que perdemos nosso tempo em um esforço infrutífero. Ao contrário, esta oração aparentemente estéril pode ser mais agradável a Deus que nossos momentos de arrebatamento, porque está purificada de qualquer busca egoísta de satisfação espiritual. É a oração da vontade simples e nua. Deveríamos, portanto, perseverar em estabelecer cada dia um tempo regular e fixo para a invocação do Nome, mesmo que esta oração nos pareça deixar frios e áridos; este esforço sério da vontade, essa sóbria “espera” do Nome não deixará de trazer-nos bênção e força.

14.  Além do Mais, a invocação do Nome raramente produz um estado de aridez. Aqueles que possuem alguma experiência desta forma de oração concordam que frequentemente vem acompanhada por um sentimento profundo de alegria, ardor e luz. Tem-se a impressão de mover-se e caminhar na luz. Nesta oração não há nada pesado, aborrecido, forçado. “Teu Nome é como um óleo que se derrama… Arrasta-me contigo, corramos”! (Ct 1,3-4).

Fonte:  A Invocação do Nome de Jesus – Coleção: ” a oração dos pobres” 3ª edição. São Paulo. Edições Paulinas,1984.

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