A Liturgia e o Ano Litúrgico

Por: Sebastião Catequista.

Deus revela-se para nós na história do povo, como Deus presente. Ele estabeleceu uma relação de amizade, uma parceria em aliança (cf. Ex 6, 1-8; 20,1-20; Dt 4, 7-8). Em vários momentos ele se manifesta através de pessoas e acontecimentos (cf. Ex 3, 16-18; 1Sm 3) e é sempre Deus que toma a iniciativa (cf. Gn 12,1-4; Is 7,10-17).

            O Primeiro Testamento constitui o testemunho dessa relação e da revelação divina na vida do povo. Nele encontramos os relatos de um Deus que fala, que é próximo, que age (cf. Ex 2,23-25; 3,13-15).

            No Segundo Testamento ele se manifesta em Jesus, com Jesus e por Jesus, para nós. Se no passado (cf. Hb 1,1-4) ele nos falou de várias maneiras, agora nos fala pelo filho, o Verbo encarnado (cf. Jo 1, 1-5.9-14; 1Jo 1,1-4). A vida de Jesus com sua paixão, morte e ressurreição constitui o falar e agir de Deus no meio do povo.

            A Igreja fiel ao seu Senhor, celebra a presença de Deus e a sua Obra de Salvação na criação e na história em favor do seu povo, como nos diz Lucas no cântico do Magnificat (cf. Lc 1,46-55). Ele é o centro da Liturgia, pois, ela, é o Cântico da Igreja elevado a Deus, a quem adora, suplica, canta, intercede, louva e entoa sua ação de graças.

            E como numa relação familiar e filial, quem nos convoca em Assembleia é o próprio Deus (cf. Jr 23, 3a), para a divina Liturgia. Aí age sua palavra que é escutada, meditada, refletida, apreendida e praticada, e não volta para Ele sem eficácia (cf. Hb 4,12-13).

            Então o que é a Liturgia? Quem são seus atores? O que se celebra? Como e para que fazemos a Liturgia? Vamos conhecer e aprofundar em linhas gerais, esse tema tão importante para a vida da Igreja.

 A Liturgia

             Liturgia é a ação da Igreja pela qual celebra o mistério da salvação. Dizendo de outra forma: liturgia é fazer memória da vida, paixão, morte e ressurreição do Senhor. A liturgia revive e atualiza no hoje de nossa vida, essa presença e graça. Assim nos diz os bispos no documento da CNBB, Animação da vida litúrgica no Brasil, nº 43:

            “O mistério pascal de Cristo é o centro da História da salvação e por isso o encontramos na Liturgia como seu objeto e conteúdo principal. Esse mistério envolve toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristãos[1]

            Daí porque celebrar. “A celebração ocupa, na Religião, um lugar privilegiado: porque põe homens e mulheres em comunhão entre si e com Deus através de símbolos ou sinais. No cristianismo, a celebração consiste na memória do acontecimento fundante do Povo de Deus, isto é, a morte e a ressurreição do Senhor, que perpetua na História a salvação que Cristo veio trazer a todos. [2]

O Ano Litúrgico

             Como podemos perceber acima, a liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Jesus. E o tempo forte de sua vivencia mais profunda é o Domingo – Dia do Senhor. Em torno do tempo do Domingo aos poucos foi se organizando o período pelo qual denominamos, ano litúrgico. Então, o ano litúrgico é o período através do qual a Igreja celebra esse mistério durante o ano. É um caminho, um itinerário, um roteiro pelo qual vivenciamos durante todo o ano, a memória do Senhor.

O ano litúrgico “revela todo mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a encarnação e nascimento até à ascensão, ao pentecostes e à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor” (SC 102). Ele fundamentalmente está organizado em dois ciclos: o tempo da páscoa e o tempo do natal. Intercalados por um período curto e outro mais longo, denominado de, tempo comum.

            Podemos representar em gráfico da seguinte maneira.

 ano_liturgico_completo

Como podemos perceber, temos o tempo ou ciclo do Natal com sua preparação, o advento, depois, o natal, em seguida o prolongamento com as festas da sagrada família, mãe de Deus, epifania e batismo do Senhor. Terminado esse tempo, temos um curto intervalo denominado de, tempo comum. Nesse tempo, nossa atenção na liturgia se volta para o início da vida pública de Jesus. Após esse período do pequeno tempo comum, temos o tempo ou ciclo mais importante, o tempo ou ciclo da páscoa. Também no tempo da páscoa temos uma preparação, a quaresma, com cinco domingos, em seguida o tríduo pascal (de quinta-feira santa ao sábado santo) e a grande celebração, a páscoa do Senhor. Dando continuidade a páscoa, segue a sequência de oito domingos pascais, sendo o sétimo a ascensão do Senhor e o último, pentecostes, encerrando o tempo ou ciclo pascal. Uma vez encerrado esse tempo, o ano litúrgico continua com o tempo comum grande. O tempo comum grande começa com a festa da Santíssima Trindade, tem suas solenidades, festas e memórias (corpo do Senhor, coração de Jesus, santos/santas, Nossa Senhora) tanto de alguns aspecto da vida de Jesus como de seus seguidores e sua Mãe. Ele termina com a solenidade da festa de Cristo Rei em fins de novembro e começo de dezembro. Depois começa tudo de novo.

A liturgia é cheia de simbolismos. Durante o ano litúrgico, um desses símbolos, são as cores litúrgicas. O que elas significam e em que momentos são usadas? As cores são: o branco, o vermelho, o verde, o roxo, e o róseo. Por seu caráter, cada uma expressa um sentimento, uma mensagem seja ela de tristeza, alegria, vida, amor, esperança, purificação/pureza, etc., assim temos:

O branco – que tem um caráter de pureza, purificação, alegria, glória, está associado a alegria, só pode ser usado nas seguintes situações: nas festas do natal e páscoa; nas celebrações dedicada a Nossa Senhora; na solenidade de todos os santos (01/11); na festa da conversão de são Paulo (25/01); na festa do nascimento de são João Batista (24/06); na festa de são João evangelista (27/12).

O vermelho – por seu caráter simboliza a vida, o amor, o martírio, o testemunho e só pode ser usado nas seguintes situações: no domingo de ramos; na sexta-feira da paixão; no domingo de pentecostes; na celebração do sacramento da crisma (Espírito Santo); nas missas de mártires; no coração de Jesus.  

O verde – por seu caráter de esperança, tranquilidade, é usado durante toda a celebração do período do tempo comum, indicando que a Igreja na esperança aguarda o seu Senhor.

O roxo – é uma cor de forte sentimento melancólico. É usada durante todo período da quaresma e nas celebrações dos defuntos. Ao mesmo tempo que expressa tristeza, também nos alerta para a conversão imediata perante o Senhor, daí ser usada no tempo da penitencia, a quaresma.

O róseo – é uma cor mais leve, ao contrário do roxo, e expressa um sentimento de leveza mesclada com uma esperança iminente. É usada em dois momentos: no terceiro domingo do advento (gaudete – jubilai-vos, alegria) onde se expressa um sentimento de alegria pela proximidade da chegada do Senhor que vem ao nosso encontro; e no quarto domingo da quaresma (laetare – alegra-te, alegria) que nos convida a uma alegria comedida perante o tempo especial que se aproxima da páscoa do Senhor. É um preludio da grande e indizível alegria plena e perfeita.

Há ainda outras cores festivas que os padres usam como expressão alegre e cultural do nosso povo, como por exemplo, as casulas de múltiplas cores.  Cada qual capta o sentimento que está por trás dos eventos celebrados.

Tudo isso, pois, é vivenciado  na celebração cujo ritos, atores e espaço litúrgico tem um papel fundamental. Aliás, sobre a Celebração e os demais elementos, confira clicando aqui: Celebração.

[1] CNBB 43, nº 48

[2] Nº 37.38.39.

 

Bibliografia consultada:

  • CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. Documento da CNBB 43. São Paulo: Paulinas, 1990.
  • CNBB. Guia Litúgico-Pastoral. São Paulo: Edições CNBB.

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