Volta e meia, nos deparamos nas reuniões e encontros, com uma afirmação a respeito de Jesus e do pecado que não corresponde à verdade. Escuto dizer: “Jesus foi humano em tudo, menos no pecado.” A interpretação dessa afirmação insinua algo haver com a sexualidade e sempre de modo negativo. Essa ideia é errônea por falta de conhecimento e contexto das Escrituras.
De fato, ele não cometeu pecado. Mas de que pecado se está falando aqui? Geralmente, ao citar esse texto: “Jesus foi humano em tudo, menos no pecado” tem-se a ligeira impressão de que se trata do pecado da sexualidade, ou seja, de que não teve nenhum contato com mulher. O argumento para isso coloca-se, sua condição de homem santo, ou sua prerrogativa de ser Deus, ou mesmo sua condição de celibatário por causa da missão que veio cumprir.
Constitui-se um erro pensar assim e usar de tais argumentos. Explico: 1. Jesus foi celibatário por opção de vida em vista da condição que assumiu, logo (e mesmo assim, não há registro), ele não teve contato com mulher; 2. Segundo são Paulo (cf. Fl 2,6-8s), Jesus quando nasceu, mesmo se sabendo ser divino, não fez caso ou não usou de suas propriedades divinas para viver a condição humana ou superar condicionamentos humanos, com sua autoridade divina. Logo, temos a constatação de que “em tudo foi humano” sabendo discernir o certo do errado, ou mesmo impondo sua vontade humana, sobre fatos que por certo, não queria fazer ou não convinha (cf. Hb 2,10-18). Como todo ser humano, ele também tem o domínio de suas faculdades humana; 3. Jesus é de cultura e costume oriental, logo não pensa a sexualidade e o conceito de pecado que temos hoje, que é de cultura ocidental, que tem séculos e séculos de leitura totalmente errônea sobre diversos temas entre os quais a sexualidade.
Então como entender a afirmação de que Jesus foi humano em tudo menos no pecado? Convém explicar primeiro que, ao afirmar isso, o autor que é oriental e, diga-se de passagem, bem entendido da tradição judaica da história do povo de Deus. Ele está fazendo uma leitura da aliança do povo com Deus. Nessa história, principalmente, o Êxodo, ele entende que o povo por diversas vezes foi infiel a Deus, quebrando a aliança; se prostituindo com ídolos; com o poder; com os interesses seus, que não correspondia aos de Deus. Esse povo era pecador, mas que com a graça de Deus, teve o perdão e por parte de Deus, foi muitas vezes reatada a aliança, com base na Sua misericórdia.
Segundamente, convém explicar que, Jesus sendo membro desse povo, profeta e messias escatológico derradeiro e último, homem como nós, em sua trajetória de vida refaz toda a caminhada do povo, sendo fiel a aliança com Deus. Ele soube vencer a tentação e instaurar o projeto de Deus, o Reino. A onde o povo e suas lideranças falharam, Jesus concertou e levou adiante o projeto. Logo, a afirmação de que Jesus sendo homem não cometeu pecado algum, não se trata da sexualidade e muito menos de seu relacionamento com mulheres, mas se trata de que, ele enquanto humano representante do humano, com a missão divina de superar o pecado da quebra da aliança, o fez com a dignidade que lhe é própria.
Agora, sim, podemos dizer: “Jesus foi humano em tudo, menos no pecado” ou dizendo doutro modo: “Jesus viveu intensamente sua vida em relação a Deus e ao povo de modo tal, que não achamos nele, nenhum pecado, nenhum mal de que todos nós, filhos de Adão, somos portadores: a desobediência a Deus” (cf. Rm 5, 19s)
Ele não quebrou a aliança (“não cometeu pecado”) como o nós o fizemos. Não se trata do pecado se referindo à sexualidade, mas trata do pecado como “quebra da aliança” com Deus. Jesus “não foi infiel a Deus” como o fora seus conterrâneos, contemporâneos e nós.
Por isso, Jesus é digno de nossa confiança. Ele não cometeu pecado, nós sim. Ele não usou de suas prerrogativas divinas enquanto humano, para que também nós olhando para ele e com a graça de Deus, possamos também sermos bons, perfeitos e fieis. Afinal, não é ele o modelo do novo Adão? Não é ele o protótipo do “Homem novo” que buscamos a cada dia ser? Então, se como humano foi o que foi não podemos nos dar o luxo de dizer: “foi assim ou agiu assim porque era divino”, mas ao contrário, podemos dizer: “hoje serei melhor do que ontem, e eu o posso sim, porque tenho um espelho (Jesus) que me diz que posso ser melhor e nova criatura hoje”. Não é isso, pois, o que em chave religiosa ou teológica chamamos de “santidade”?
Pois bem! Jesus é o mais perfeito de nós, é o nosso modelo, não por ser divino que é, mas por ser profundamente humano, elevando o humano à condição de divino, como já foi dito por aí.
Deixo para nossos internautas então a pergunta: E você, o que diz sobre o assunto? O que lhe fascina na pessoa de Jesus?
Passando por acaso na procura de um tema, deparei-me com este site maravilhoso em que vocês nos deixam muito mais esclarecidos a respeito dos assuntos de nossa fé católica. Muito obrigado. Deus os abençoe nesta missão.