Teologia da Libertação

tdl

Por:  Sebastião Catequista.

Introdução

            Antes de existir a TdL houve uma serie de eventos a nível eclesial e a nível de mundo, que fomentaram um período propício à abertura da Igreja ao mundo. A Igreja sai de um período de condenações para um período de dialogo com o mundo.

A nível de mundo e de América Latina

            O mundo estava passando pelo processo de mudanças. Esse processo desemboca nas ideologias comunista, socialista e militarista. Na área econômica e social aparecem movimentos em prol dos trabalhadores, de mercados livres; na área da cultura nascem iniciativas que modificam o jeito de pensar e agir do homem do século XX. Os americanos firmam sua expansão e liderança no mundo.

            Na America Latina, o povo passa por governos populistas e militares. Há grande pobreza, fome, subdesenvolvimento. Nascem uma nova relação marcada pela pobreza e riqueza e influenciada pela vida norte-americana.

Dentro da Igreja…

            Sentido esse clima, principalmente na década que antecede o Vaticano II, a Igreja é marcada pela ação e pela reflexão de padres europeus que elabora uma reflexão que influenciará aqueles que terão influencias de abertura no Concílio Vaticano II e na TdL, entre eles João XXIII. Eis os principais nomes:

  • Johann Baptist Metz,
  • De Lubac,
  • Yves Congar,
  • Schillebeeckx,
  • Karl Rahner..

A Igreja sentia que o mundo estava mudando, contudo não caminhava no mesmo passo que ele, inclusive era antagônico à ele. Mas havia bispos, padres e teólogos que sentiam a necessidade de mudanças e foi com João XXIII que essas mudanças chegaram. Ele soube aproveitar desses mestres o que de melhor havia para o diálogo com o mundo moderno. Também eventos propícios dentro da Igreja foi favorável a uma ação dialogante e libertadora. Contudo isso não se deu do mesmo modo nas várias regiões do mundo. Na America Latina, tais mudanças encontraram eco num grupo de bispos, padres e teólogos que foram promotores de uma nova Igreja. Eis alguns dos eventos:

  • A Conferência do Rio em 52;
  • A criação do CELAM
  • A Encíclica Populorum Progressio (1967)
  • Celebração do Concílio Vaticano II (62-65)
  • Medellín (Colômbia 68)
  • Olhar da Igreja sobre a realidade latino-americana: subdesenvolvimento
  • Tomada de posição frente aos governos que deram golpes militares

Diante das brechas de abertura, bispos, padres e leigos se sentiram motivados por uma reação frente a pobreza e a ideologia dominante.  Encontros de teólogos latino-americanos que estudavam na Europa, reuniões e assembléias pastorais realizada pelos bispos e pelos religiosos fizeram com que houvesse uma compreensão da realidade do povo que era de subdesenvolvimento. Utilizando a análise marxista conforme a regra cientifica (método de analise da sociedade [não confundir com a ideologia política marxista que gerou a policia comunista e socialista]) para compreender a situação real, esses teólogos deram às comunidades locais instrumentos (teológico, pedagógico, sociológico e político) que possibilitava a organização e compreensão para uma ação pé no chão. Para isto, a nível popular, eles usaram as ferramentas de analises ((VER, JULGAR E AGIR)) usada pelos os movimentos sociais europeus (JOC, JEC…). Essa forma de analises da situação  com o povo em suas igrejas locais ajudava numa linguagem mais simples, a compreender e a fazer com que o povo com os seus pastores reagissem.  Assim, na conferencia de Medellin nascem uma reflexão e uma ação respaldada pelos documentos do magistério (documentos do papa, do Vaticano II, das Conferencias). Nasce a Teologia da Libertação.

Essa teologia era algo novo que surgia, não dos centros europeus e depois transportada para a America latina, mas era algo novo da própria America latina. Alguns dos nomes como: Gustavo Gutiérrez, Inácio Illacuría, Dom Helder Câmara, Dom Oscar Romero, os Irmãos Boff,  Juan Luis Segundo, Pablo Richard,  José Comblin, Carlos Mesters, deram corpo a essa reflexão latino americana que culminou com o nascimento da Teologia da Libertação em vários níveis.

Teologia da Libertação

            É uma teologia própria da America Latina inspirada no Concilio Vaticano II. Geralmente os autores a divide pedagogicamente em três níveis[1], que facilita sua compreensão e práxis.

teologia da libertação

[1] Como fazer Teologia da Libertação. Boff. Leonardo, Clodovis. Coleção Fazer. 3ª Edição. 1986.Vozes.

A TdL busca integrar a fé e a vida. Assim o que o povo ouvia dos seus pastores nas Celebrações, com respaldo das Escrituras e do Magistério, era compatível com sua vida e isto criava um vínculo muito forte entre o povo, a Igreja e a vida vivida por eles.

Casos e descasos com a TdL

            A TdL foi reconhecida pela Igreja “oficial”  vaticana, vários documentos comprovam essa verdade, mesmos os que foram publicados pelo Vaticano acerca de “alguns elementos suspeitos” supostamente encontrados nela.  O papa João Paulo II a recomenda como matriz própria da America Latina, junto aos órgãos da CELAM e da CNBB. Contudo, essa teologia criou muitos “inimigos” e alguns teólogos foram silenciados enquanto “voz oficial” do magistério. O que levou à aos teólogos da libertação a serem silenciados pelas autoridades vaticana?

            Em poucas pinceladas temos:

  1. O Caso de Leonardo Boff

O silêncio obsequioso é uma punição imposta pela Santa Sé a religiosos que, no seu entendimento, pregam ou divulgam doutrinas consideradas errôneas em relação à ortodoxia doutrinária da Igreja Católica, seja através de declarações ou da publicação de livros e artigos. Consiste em exigir ao subordinado, no caso um padre ou religioso que tenha feito voto de obediência, um afastamento da pregação ou publicação de textos por um período de tempo determinado.

A medida é extremamente dura. Ela foi aplicada por um ano em 1985 a Leonardo Boff após a publicação de seu livro, “Igreja: carisma e poder”.

Leonardo Boff ingressou na Ordem dos Frades Menores em 1959 e foi ordenado sacerdote em 1964. Em 1970, doutorou-se em Filosofia e Teologia na Universidade de Munique, Alemanha. Ao retornar ao Brasil, ajudou a consolidar a Teologia da Libertação no país. Lecionou Teologia Sistemática e Ecumênica no Instituto Teológico Franciscano em Petrópolis (RJ) durante 22 anos. Foi editor das revistas Concilium (1970-1995) (Revista Internacional de Teologia), Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e Revista Eclesiástica Brasileira (1970-1984).

Seus questionamentos a respeito da hierarquia da Igreja, expressos no livro Igreja, Carisma e Poder, renderam-lhe um processo junto à Congregação para a Doutrina da Fé, então sob a direção de Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI. Em 1985, foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso”, perdendo sua cátedra e suas funções editoriais no interior da Igreja Católica. Em 1986, recuperou algumas funções, mas sempre sob severa vigilância. Em 1992, ante nova ameaça de punição, desligou-se da Ordem Franciscana e pediu dispensa do sacerdócio. Sem que esta dispensa lhe fosse concedida, uniu-se, então, à educadora popular e militante dos direitos humanos Márcia Monteiro da Silva Miranda, divorciada e mãe de seis filhos. Boff afirma que nunca deixou a Igreja: “Continuei e continuo dentro da Igreja e fazendo teologia como antes”, mas deixou de exercer a função de padre dentro da Igreja. Suas críticas à estrutura hierárquica da Igreja Católica e seus vínculos com a teologia da libertação fazem com que setores católicos considerem-no apóstata.

Sua reflexão teológica abrange os campos da Ética, Ecologia e da Espiritualidade, além de assessorar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e movimentos sociais como o MST. Trabalha também no campo do ecumenismo.

Em 1993 foi aprovado em concurso público como professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é atualmente professor emérito.

Foi professor de Teologia e Espiritualidade em vários institutos do Brasil e exterior. Como professor visitante, lecionou nas seguintes instituições: de Universidade de Lisboa (Portugal), Universidade de Salamanca (Espanha), Universidade Harvard (EUA), Universidade de Basel (Suíça) e Universidade de Heidelberg (Alemanha). É doutor honoris causa em Política pela universidade de Turim, na Itália, em Teologia pela universidade de Lund na Suécia e nas Faculdades EST – Escola Superior de Teologia em São Leopoldo (Rio Grande do Sul).

  1. O caso de Jon Sobrino

Entrou para a Companhia de Jesus em 1956 e foi ordenado sacerdote em 1969. Desde 1957, pertence à Província da América Central, residindo habitualmente na cidade de San Salvador, em El Salvador, país da América Central, que ele adotou como sua pátria.

Licenciado em Filosofia e Letras pela Universidade de St. Louis (Estados Unidos), em 1963, Jon Sobrino obteve o mestrado em Engenharia na mesma Universidade. Sua formação teológica ocorreu no contexto do espírito do Concílio Vaticano II, a realização e aplicação do Vaticano II e da Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Medellín, em 1968. Doutorou-se em Teologia em 1975, na Hochschule Sankt Georgen de Frankfurt (Alemanha) com a tese “Significado de la cruz y resurrección de Jesús en las cristologias sistemáticas de W.Pannenberg y J. Moltmann”. É doutor honoris causa pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica (1989), e pela Universidade de Santa Clara, na Califórnia (1989).

Sua obra teológica é uma contribuição à Cristologia a partir da realidade da América Latina. Sua primeira obra, publicada em 1976, foi Cristologia a partir da América Latina: Esboço a partir do seguimento do Jesus histórico, que o insere entre os teólogos da libertação.

Diante da ditadura salvadorenha, Sobrino escapou de ser assassinado no massacre à comunidade jesuíta ocorrido em 16 de novembro de 1989 quando um grupo paramilitar entrou na Universidad Centroamericana (UCA) e assassinou seis companheiros jesuítas, a cozinheira e sua filha. Sobrino não estava na casa por estar substituindo Leonardo Boff em um curso de Cristologia na Tailândia.

Atualmente, divide seu tempo entre as atividades de professor de Teologia da Universidade Centroamericana, de responsável pelo Centro de Pastoral Dom Oscar Romero, de diretor da Revista Latinoamericana de Teologia e do Informativo “Cartas a las Iglesias”, além de ser membro do comitê editorial da Revista Internacional de Teologia Concilium.

Mais recentemente, em fevereiro de 2007, o teólogo salvadorenho Jon Sobrino recebeu uma notificação, que nada mais é do que outra forma de “silêncio obsequioso”.

Conclusão:

A TdL nesses 30 anos de existência tem influenciado e formado gerações inteiras de sacerdotes e teólogos, como também foi e é inspiração para diversas teologias que se achegou debaixo de suas asas. Exemplo dessas novas teologias, são: teologia feminina, teologia negra, teologia gay, teologia índia, etc.

Atualmente ela, a TdL, existe e procura articular fé e práxis num âmbito mais abrangente que o púlpito do cristianismo. Seus teólogos percebem que os problemas que no passado combatiam, tornou-se hoje mais grave, com nova linguagem, com novos métodos e meios e que ultrapassa as paredes do cristianismo e da sociedade, percebe que os pobres de ontem são hoje os mesmo e maior número. O palco de sua pregação é o mundo dos homens ali onde estão, longe das velhas paredes das igrejas, e os temas abordados são novos e com relevância que diz respeito ao futuro não muito longínquo, e que o ponto chave da questão é, e sempre será, a vida a partir do pobre, ele é o sujeito que mobiliza a profecia da pregação do reino anunciado por Jesus.

 

Bibliografia consultada:

  • Pauly. Wolfgang. História da teologia cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
  • CELAM. Cem anos de teologia na América Latina 1899-2001 (Coleção Quinta conferência – história) São Paulo: Paulinas, 2005.
  • Boff. Leonardo. Clodovis. Como fazer Teologia da Libertação. Coleção Fazer. 3ª Edição. 1986.Vozes.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*