Sexualidade e amor conjugal

Por: Sebastião Catequista

A sexualidade e o amor são duas realidades tratadas entre nós como distintas uma da outra. Contudo, mesmo distintas, não são duas realidades separadas, mas uma única e só realidade, pois ambas constituem a energia vital e visceral, psíquica, social e espiritual da vida humana. Não há como separar. São forças que agem inerente a condição humana.

             Falar de sexualidade dentro da Igreja é sempre escorregadio. Porque o discurso e a prática são bem diferentes da realidade da vida cotidiana dos fiéis. Todavia, o contrário é bem menos discrepante. Falar do amor e exercitá-lo é de um altruísmo sem igual. Está sempre na “moda”.

            Já o mesmo não se pode dizer da sexualidade e do amor na sociedade vigente.  Tais temas sempre aparecem como tabu demais ou como aberto demais incentivando a uma postura lascívia a-moral, consumista, distorcida e vendida, desejada e praticada como um produto. E o amor, de algum modo também está aí implicado.

          Enquanto sexualidade e amor são para essa sociedade esvaziados de altruísmo e alteridade, banalizado, estimulado e vendido como prazer e satisfação a pré-texto do direito de ser feliz, é comum e faz parte da cultura moderna estimular os sentidos inconscientemente para a pratica banal dos mesmos, sobretudo pelas diversas formas de propagandas desde algum tipo de bebidas passando pela gastronomia, ou outro objeto de consumo até mesmo a pratica do ato sexual pelo simples prazer em si.

             Por outro lado, a sexualidade mesmo sendo quase um “tabu” na Igreja também o é na sociedade (escola, local de trabalho) e mesmo na família dentro de casa. O mesmo não é e não se dá, por exemplo, nas rodas de conversas entre os amigos/as num círculo menor e nas redes sociais. Esse “tabu desaparece” sobretudo com as piadas, olhares, brincadeiras e comentários de duplo significado. Já o amor de certo modo é propalado com uma certa tolerância sob forma de cuidado, de afeto, de preocupação com o outro/a, e o engajamento por uma causa. E tanto na Igreja como na Sociedade conversar sobre ele é mais aberto e estimulado, exceto quando é usado como adjetivo para designar de modo velado a sexualidade e o ato sexual.

         Sigmund Freud em seus estudos chamou-nos a atenção para a sexualidade enquanto força vital que está na constituição visceral e seminal da vida humana, sentida, carregada e vivida nos nossos corpos, revestida de sentimentos, desejos, prazer e energia, liberada sobretudo pelo ato sexual e pelos pequenos gestos escamoteados no dia-a-dia; por sua vez, Carl.G.Jung nos dá uma outra visão bem mais aprofunda e aberta pontuando que a sexualidade é uma energia que se pode além do ato sexual canalizar para algo mais profundo, altruísta e de alteridade, indo além da corporeidade sem mesmo excluir o próprio corpo, o próprio ser.

            Ouvindo esses dois mestres da psicologia/psicanalise humana podemos intuir e aprender que a sexualidade está no nosso cotidiano. Ela é vivida sobretudo através de um abraço fraterno, um aperto de mãos, um gesto de afago, de carinho, no ato de presentear alguém, e até mesmo na forma como lhe damos com os nossos pertences, cuidamos do nosso habitat, e das pessoas. Em qualquer um desses gestos e atitudes a sexualidade está presente e revela muito sobre nós. Através dela desvelamos nosso próprio eu, se estamos bem ou neuróticos, se somos amados ou não. E na vida conjugal isso é importante, faz uma diferença muito grande na relação, é o que nos adverte são Paulo na sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 7 ,3-6s). De outro modo, o amor sublima todas esses gestos e atitudes pelo altruísmo e alteridade, ele é transcendente.

               E é “transcendente” porque o amor é bem diferente da sexualidade. Ele é por assim dizer a “alma” da sexualidade. É através do amor que ambos os cônjuges se realizam e são plenos em seu desejo, sem se fecharem em si mesmos, perigo que corre por exemplo numa vivencia da sexualidade só para fins de desejos outros que não sejam o amor. O amor é mais profundo, preenche e dá sentido à vida. A sexualidade por sí  e em si, não.

             Por isso que a vida só tem sentido com amor e o amor nunca é sozinho, é sempre acompanhado. E essa é uma verdade bíblica central da fé cristã. O amor não existe para sí mesmo, mas para o outro. É no outro que ele se encontra e se ama a si mesmo. Daí concluir que o amor é relação. E por ser relação desvela uma outra verdade bíblica cristã: o mistério trinitário do Deus de Jesus. Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8) e Sua Natureza mais intima é relação amorosa entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Relação que os une, conserva a identidade própria de cada umas pessoas divinas e não as subtrai.

         Quando falamos de sexualidade e do amor na vida do casal estamos nos referindo não só ao ato sexual em si, mas também daqueles gestos e atitudes que mostram uma sadia vivência da sexualidade e do amor como uma realidade única a saber: o investimento de tempo na relação; gestos e atitudes de afeto e carinho nas pequenas coisas, porque são as pequenas coisas que fazem a diferença; vivência de momentos propícios de prazer e alteridade pelo lazer e entrega a uma causa; surpreender com um bilhete; um telefone; um recadinho nos Smartphones; um afago; um presente; um cinema; um passeio, etc, todas essas formas são expressões de amor conjugal e de uma correta vivencia da sexualidade e do amor. Desse modo o casal estará saciado nos seus desejos e fantasias, liberando no seu corpo aquela energia benfazeja expressada pelo sorriso nas faces, pela delicadeza, pela alegria cantarolante, pelo dinamismo das ideias, pela satisfação, e pela certeza de que ama e é amado/a.

            Aí a sexualidade e o amor conjugal assim alimentados não só realiza plenamente a ambos os parceiros, como irradia para seus filhos, amigos, parentes, aquela presença da felicidade, aquela presença de Deus mesmo (já que Ele é amor) mostrando com isso, a santidade. E isso, é com certeza, um golpe na sociedade vigente, porque lhe mostra a face da verdadeira sexualidade e do verdadeiro amor, sem comercialização ou banalização, e se torna de certo modo para a cultura capitalista um testemunho profético da sexualidade e do amor verdadeiro.

            De fato, a sexualidade e o amor sentidos, pensados e vistos, assim, se tornam perigosos para a sociedade hodierna e será combatido por ela, naquilo que há de mais frágil no amor: as relações interpessoais; e o instrumento para isso será a lascívia disfarçada de amor nas mais variadas formas. Porque, é isso que vemos todos os dias em cada rua, em cada esquina, em cada outdoor, em cada propaganda dos jornais e das TVs.

            Por isso, cabe aos casais cristãos se cercarem daquelas atitudes que reverencia e mostra afeto, amizade, altruísmo, alteridade, zelando pelas relações sadias, não dando ouvidos aos pregões comerciais do amor, mas pelo contrário, denunciam com suas vidas o falso que está presente nesse amor banalizado e que deteriora as relações conjugais e humanas.

Por fim, para continuar refletindo e conversando sobre o tema, alargando nossos horizontes e partilhando nossas experiências, que tal esses questionamentos:

  1. O que o texto ajudou a compreender sobre a vida conjugal?
  2. Como você compreender a sexualidade e o amor?
  3. Como a sexualidade e o amor são usados pelo marketing na sociedade? Dê exemplos concretos!
  4. Como as mídias exploram esse tema nas rede sociais?
  5. Você consegue explicar o sentido desse pensamento: “O homem ou a mulher quando não saciados nos seus desejos mais íntimos além de se confundir e ficar insatisfeito se torna vulnerável ao amor/lascivo fora de casa” Nesse caso, o que poderia ser feito para evitar momento tão doloroso psicologicamente?

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