Teologia

Por:  Sebastião Catequista.

Nesse artigo, expomos um resumo de algumas anotações nossas sobre o livro: Introdução à Teologia: perfil, enfoques, tarefas. J. B. Libânio e Afonso Murad. Edições Loyola, Ipiranga-SP, 2011, 8ª edição revista e ampliada.

Introdução    

O que é teologia? Como se faz teologia? Quais as ferramentas (método) usadas? De modo geral, quais os primeiros passos dados para se apropriar dos conteúdos teológicos e elaborarmos uma teologia?

            Teologia – discurso sobre Deus e suas manifestações.

            Teosofia – conhecimento sobre Deus a partir da filosofia, da sabedoria.

            Teodiceia – conhecimento de Deus a partir do problema da existência, do mal.

            Teologia compreende-se sob a mediação da fé. A fé pensada, a fé sentida e a fé enquanto agir, ação. O teólogo trabalha com a dupla dimensão da fé: fides qua (a fé como ato livre de acolhida e vivencia da Palavra de Deus) e fides quae (a fé como reconhecimento e adesão subjetiva a Palavra de Deus). O teólogo só pode pensar a fé a partir da comunidade eclesial.

            No aprendizado da teologia o aluno deve apropria-se dos seguintes passos inicial: conhecer e apropria-se do conteúdo teológico; elaborar sínteses; fixar na memória. Em um segundo momento, fazer teologia consiste em, elaborar um discurso espontâneo; e/ ou elaborar um discurso segundo as normas técnicas dos padrões científicos, conforme as regras internas do discurso teológico. Para isso, o teólogo iniciante deve: aprender as regras internas, compreender-lhe o significado; apropria-se da linguagem técnica; produzir conteúdos.

  1. Aprender Teologia

            Na função aprender teologia, o acento cai no trabalho necessário de apropria-se dos conteúdos já elaborados, bem como ter uma visão completa de toda a história da teologia enquanto tal. Esse trabalho demanda tempo, pesquisa, leitura, anotações, sínteses, assimilação de ideias, conceitos, nomes de obras e autores, etc.

            Devemos entender que, apesar de haver um conteúdo, obras, e ideias, o aprendizado tem uma dinâmica própria e que toda teologia tem seu dado cultural circunstancial e contextual, mas que de outro modo, também faz caminho cuja característica e consequência se desenvolve de algum modo a-posteriori, deixando marcos de referencias.

  1. Fazer Teologia

            Fazer teologia tem dois níveis. O nível do discurso espontâneo que toda e qualquer pessoa pode fazer, tendo como pressuposto a experiência empírica a partir dos dados da fé revelada, sentida e celebrada. Tal discurso teológico parte de uma lógica não elaborada conforme o sentido mais técnico, é a teologia popular; o outro nível, técnico, que já foi citado, segue regras internas e da própria natureza cientifica de modo mais refinado. Nesse sentido há todo um processo elaborativo, cuja contribuição anterior das diversas áreas ajuda a compor o quadro, e a elaborar com objetivo próprio da teologia internamente, o discurso tipicamente teológico.

            Mas uma teologia que fica apenas no discurso, pode se tornar oca, vazia. Isso se pode dizer, sobretudo da teologia no segundo nível.  A fé que é pensada, discursiva, deve se tornar fé sentida, celebrada, rezada. Pois, para além dos conceitos frios, rígidos, acabados e parados do cientificismo, a teologia deve evocar a fé enquanto celebração daquilo que se crer. Isto é, a teologia enquanto fé celebrada deve constituir a alma da teologia enquanto corpo pensado, analogicamente falando. E seu lugar apropriado é a comunidade eclesial, como já foi dito. O teólogo mais que pensar Deus, é aquele que se sente atraído por ele e nele, percebe-se misticamente envolvido, como num auscultar e prescutar de uma poesia cujos sentimentos afloram e desabrocha em arroubos de nítido amor amante.

  1. Celebrar e rezar a Teologia

            A teologia pensada, refletida, encontra seu lugar próprio na comunidade, mas uma comunidade que celebra a fé e a vida, que faz memória. Assim, a teologia que pensa, é a teologia que reza, que celebra. Celebrar os conteúdos da fé, enquanto discurso teológico, teologia enquanto discurso sobre Deus implica rezar, dançar e cantar os conteúdos cridos. No fundo o que está em jogo é a mística do teologizar a fé, a experiência sentida, pensada. A liturgia é o coração pela qual sentimos e rezamos aquilo que é próprio na/da teologia. Ela, a liturgia, é a teologia rezada, celebrada. Lex orandi, lex credenti, lex theologandi: a lei de orar é a lei de crer e de fazer teologia. (J. Libanio, A. Murad, 2011, pág. 55).

A Teologia enquanto ciência, sua estrutura, seu momento interno, sua natureza.

A teologia internamente possui enquanto ciência uma estrutura própria que adquiriu no decorrer de sua história. No centro da teologia está Deus, mistério insondável.

            No período da Patrística a teologia se cristalizou por sua piedade e perfeição cristã, e sua reflexão se fazia a partir das categorias platônicas e neoplatônicas. Durante a Idade Média a teologia explorou os quatros sentidos do texto bíblico e da literatura cristã: o sentido literal; o sentido alegórico; o sentido tropológico e o sentido anagógico. A letra ensina os acontecimentos; a alegoria o que deves crer; a moral o que deves fazer; e a anagogia para ondes caminhamos escatologicamente. Essa dimensão sapiencial da teologia vigorou desde a Patrística até a entrada da metafisica de Aristóteles e a ruptura entre teologia e espiritualidade.

            Com os mestres da suspeitas, K. Max, Nietzsche, Emmanuel Kant, L. Feuerbach e S. Freud, a teologia viveu momentos críticos e de criticas. E mais ainda, com o advento da ciência moderna, sobretudo com Copérnico, Galileu e Newton nascem os conflitos mais arraigados que criou uma separação e feridas profundas que só no final do século XX e começo do século XXI é que começou uma nova jornada de amizades e curas.

            Ciências e teologia são duas linhas do saber humano que falam de pontos de vistas diferentes, com critérios diferentes, mas com métodos comuns as ambas de modo que não se exclui uma a outra, elas se entreajudam e se completam mutuamente. Não são justapostas, estão em campos distintos, mas em busca de compreensão da verdade sob aspectos e olhares diferentes, que não é o mesmo que está em contradição ou contrários como inimigos. Ambas têm em mãos materiais de analises diferentes que se complementam e caminham por caminhos cuja hermenêutica e sistematização, tem suas próprias regras de exposição e assimilação. Seus objetivos são diversos um dos outros, enquanto ciências, mas comum enquanto experiência humana.

            Os interesses das ciências humanas aparecem mais claramente vinculados com objetivo de incrementar, ampliar a interação e a comunicação entre as pessoas dentro de um universo de sentido. A teologia por sua vez, utiliza paradigmas para entender a relação central entre o ser humano e autocomunicação de Deus na história humana de modo concreto em ações e palavras. Cada qual na busca de seus interesses pode se entregar a ideologias ou usar delas para sua hermenêutica da realidade investigadas e para suas objetividades especificas, mas aí é uma outra questão – a instrumentalização da ciência e da teologia como tal.

            Ciência e teologia estão em dois mundos de linguagem. A linguagem corriqueira, comum, corrente, diária, lógica, metódica, pautada por regras cientifica da comunidade cientifica é o que define o campo da ciência; na teologia a linguagem é de outra ordem. Ela vai além da linguagem corriqueira, lógica e cientificista, parte do lúdico, da poesia, da narrativa e do simbólico. Não que ela não use dessa outra linguagem (fria, neutra, lógica) e instrumento, mas é que a teologia parte do mistério em linguagem simbólica que transcende a própria realidade. Linguagem que aquece e acalenta o coração, arde o amor, provoca conversão, fé. Sua linguagem enche-se de paradoxos ao exprimir realidades inexprimíveis. Eis a natureza da teologia: simbólica e narrativa.

            A teologia enquanto ciência do mistério situa-se no campo da fé, e por isso não pode situa-se na ordem da objetividade expositiva, do verificável, do crível, do observável, ela não expressa pensamentos simplesmente e tão somente. Seu pressuposto é a fé diante da Palavra de Deus e de sua ação no mundo, na vida. E nesse caso, sua linguagem simbólica corresponde melhor à natureza. Ela não é uma “ciência”  “preto no branco” mas, uma ciência cuja natureza figurativa toca profundamente nossa inteligência.

            A teologia constitui-se em movimento de espiral. Capta determinado dado inicial, reflete sobre ele, ampliando-o, para em momento ulterior, retomá-lo e sobre ele avançar a reflexão. Ao momento da escuta a tradição chamou auditus fidei, (ouvir a fé) e ao momento da reflexão intellectus fidei (pensar a fé). Não se trata de dois tipos de teologia positiva e especulativa, mas de um único processo teórico.

            A auditus fidei – consiste em coletar (ou-vir) o dado da tradição através do que foi exposto nas Escrituras, nos Padres da Igreja, nos grandes teólogos, na reflexão teológica recente. A preocupação desse momento é descobertas dos dados, tomar conhecimento, acumular informações.

            O intellectus fidei – consiste  ao contrário do momento anterior, em penetrar intelectualmente nos dados, refletindo, pensando, ampliando a capacidade de compreensão, abrindo novos horizontes, adaptado, atualizando o dado da revelação.  Aqui o teólogo usa sua capacidade de sistematização, de sínteses, de atualização e de releituras reinterpretando em novos esquemas mentais, em novas matrizes.

            Nesse processo de realização e trabalho de teologia, Clodovis Boff, distingue teologia de discurso religioso. A teologia é a operação teórica, disciplinada, autorregulada, enquanto o discurso religioso realiza a mesma operação de maneira espontânea, não controlada e regrada.

            Em termos gerais, a teologia pode em sua analise partir de um principio universal da fé, e por dedução ir explicitando-o aplicando-o a outras realidades – é a teologia dedutiva. De outro modo a teologia pode partir de perguntas e realidades que emergem da vida humana e responder a luz da revelação – é a teologia indutiva. Uma parte da tradição/fé para as realidades históricas; a outra parte das realidades históricas confrontando com o dado da revelação/fé.

Resumo da história da Teologia: correntes, teólogos, contribuição.

            Em sua história, a teologia teve fases, teólogos e contribuição que enriqueceram o deposito da fé cristã contextualizada em épocas, e momentos diversos. Tal contribuição tem em seu corpo objetivo de responder os questionamentos e melhor enculturação do evangelho. Veja o quadro.

tabela da teologia

Conclusão

            A teologia teve e tem uma grande importância. Passou por fases e tempos. Desde o final do século XVIII até em meados do século XX passou por momento de ferro e fogo, tanto dentro da igreja como fora, mediante os ventos da modernidade. Mas, conquistou seu lugar e hoje é respeitada enquanto ciência que tem uma contribuição a dá para a sociedade, principalmente depois da teologia da libertação.

1 Comentário

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*