Apocalipse – II: Conteúdo do livro.

 

apocalipseApós nossa introdução ao livro do Apocalipse (Apocalipse -I), apresentamos agora, de modo geral, o conteúdo do livro. Nesse artigo, nos valemos da obra do autor renomado Werner Kümmel.

            “Depois da introdução no cap. 1, o Apocalipse é dividido em duas partes principais formalmente distintas: os cap. 2 e 3 são palavras de exortação dirigidas à igreja na época do escritor (as chamadas sete cartas); os cap. 4 a 22 revelam o futuro. É esta a segunda parte principal que abrange quase três quartos do livro inteiro e que possui um sentido estritamente apocalíptico.

            No entanto, o relato introdutório da visão de Cristo – Cristo que aparece ao vidente João em Patmos (1,9-20) é precedido de um prefácio indicando o conteúdo do livro como revelação divina (1,1-3) e de uma introdução epistolar (1,4-8), e associa as comunicações epistolares com as ideias-mestras apocalípticas do livro como um todo; o livro termina como se fosse uma epístola (22,21).

            Segundo 1, 4.11, o livro dirige-se às sete igrejas da Ásia, situadas nas cidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.

            As comunicações (cap. 2-3) são cartas simetricamente elaboradas, de conteúdo exortativo, confortador e punitivo, que João foi autorizado pelo Cristo celeste a escrever para as igrejas. Cada comunidade recebe elogios e censuras conforme as condições em que se ache. Cada carta termina com uma promessa ao “vencedor” e, antes ou depois disto, com uma palavra de advertência: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça o que o Espírito diz às Igrejas.”

            O Apocalipse propriamente dito (Caps. 4 a 22) revela e interpreta as coisas que estão para vir, numa longa série de visões que se apresentam predominantemente em grupos de sete.

            A visão dos sete selos (6,1-8,1) é precedida por um prelúdio no céu (4, 1-5,14): arrebatado ao céu, João vê Deus em seu trono, cercado por vinte e quatro anciãos e quatro animais (cap. 4), vê o livro selado que ninguém pode abrir (5, 1-5), e o Cordeiro que pode abrir o selo (5,6-14). A abertura dos seis primeiros selos permite ao vidente contemplar os quatro cavalheiros apocalípticos (6, 1-8), as almas dos mártires ao pé do altar (6,9-11), e o abalo da estrutura do mundo (6,12-17). Neste ponto, existe um interlúdio: o selo que marcou os 144.000 vindos das tribos de Israel (7,1-8), e a grande multidão de mártires diante do trono de Deus (7,9-17). Com a abertura do sétimo selo faz-se silêncio no céu (8,1). Mas imediatamente depois começa um segundo grupo de sete: as sete visões das trombetas (8,2-11,19). Após uma introdução (8,2-6: orações dos santos no altar celeste; o fogo lançado sobre a terra), as quatro primeiras trombetas (8,7-12) provocam catástrofes terríveis sobre os mares e rios da terra, para o sol, a lua e as estrelas. A consequência é preparada pelo tríplice lamento de uma águia. Depois da quinta e da sexta trombeta (9,1-12;9,13-21), seguem-se os gafanhotos satânicos e um exército de cavalos selvagens.  Num intervalo, o vidente apocalíptico – que está novamente na terra – tem mais duas visões (10,1-11.14): desce do céu um anjo e promete que nos dias da sétima trombeta o mistério de Deus será realizado; o mesmo anjo entrega ao vidente o pequeno livro aberto que traz na mão, e dá-lhe instruções mostrando-lhe que ele (o vidente) deve comê-lo. O livro primeiro parece doce, mas logo depois se mostra amargo (cap. 10). Então o vidente tem de medir o templo, e ouve a profecia transmitida pelas duas testemunhas que parecem como pregadores do arrependimento, e que são mortas pela Besta que sobe do Abismo; mas as testemunhas ressuscitarão e serão arrebatadas para o céu (11,1-14). A sétima trombeta (11,15-19) proclama os cânticos celestes de louvor, o aparecimento da arca da aliança do templo celeste, mas também a desgraça cósmica. Em seguida, nos cap. 12 a 14 vem uma longa interpretação das series dos sete: o Dragão e o Cordeiro, luta e vitória.

            A mulher celeste com uma criança é ameaçada pelo dragão. A criança é arrebatada por Deus (12,1-6), triunfo de Miguel sobre o dragão (12,7-12), que inutilmente continua a perseguir a mulher na terra (12,13-17). Emergem dois animais (12,18-13,18); o primeiro emerge do mar e é ferido fatalmente na cabeça, mas, depois de curado, persegue os cristãos (12,18-13,10). O segundo, que sobe da terra, é o agressivo companheiro propagandista do primeiro animal (13,11-17). O número do primeiro animal, que é o número de um homem, é 666 (13,18).

            Contrastando com isso, surge a visão do Cordeiro e dos 144.000 que foram assinalados (14,1-5), e aparecem o anúncio e o processo do julgamento (14,6-20).

            Nem o terceiro grupo de sete, a visão das sete taças (cap. 15-16), com as horríveis pragas espalhadas sobre a terra, uma após a outra, pela taça da cólera de Deus, põe fim a tudo aquilo. Somente com a queda de Babilônia (17,1-19,10) começa o julgamento divino, que leva ao triunfo final do Senhor eterno da história: o julgamento da Prostituta de Babilônia e da Besta (cap. 17), com as lamentações sobre a queda de Babilônia (cap.18) e a alegria no céu (19,1-10).

            A parte final inclui a vinda de Cristo e a consumação (19,11-22,5) e retrata a vitória de Cristo, que aparece montado num cavalo branco e cujos nomes são ho logos toû theoû, “Rei dos reis” e    Senhor dos senhores”; ele vence o Anticristo e seus sequazes (19,11.21). Inclui ainda: o reino de mil anos do qual participarão aqueles cuja piedade houver sido provada pela morte, e o julgamento de Satanás que, entretanto, novamente depois dos mil anos vai ser deixado solto (20,1-10), o julgamento do mundo (20,11-15) e a Jerusalém celeste (21,1-22,5).

            A conclusão (22,6-21) contém a confirmação do Apocalipse como um testemunho profético da verdade divina e como uma promessa repetida da parusia de Cristo. O livro termina de forma epistolar com uma benção.”

            Eis, pois, um breve resumo de todo livro do Apocalipse. Em outros artigos veremos alguns textos e símbolos que nos ajuda a compreender o contexto em que foi escrito e sua mensagem, inclusive para nós hoje.

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Fonte: Kümmel, Werner Georg, Introdução ao Novo Testamento. São Paulo. Edições Paulinas, 1982. Pág. 599-602.

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