A educação da fé

Por: Sebastião Catequista

Todos nós sabemos que na Igreja a catequese é o processo pelo qual o cristão é educado na fé. A catequese é a educação da fé. Essa educação acontece mediante um processo pessoal e comunitário de modo sistemático progressivo, ordenado e permanente onde há assimilação de conteúdos (cf. DNC 233); vivência dos mesmos através dos momentos celebrativos; do engajamento em atividades eclesial; e o testemunho no mundo onde vivemos e convivemos (em casa, no trabalho, na escola, na praça, na rua…) fazendo assim, uma experiência concreta da fé que professamos.

Para que haja esse processo estabelecemos por exemplo, objetivos a serem atingidos, metas a serem alcançadas, planejamos a vida comunitária do grupo que está nesse processo de aprendizado. E tudo isso não para só sacramentalizá-los, mas para crescerem e darem testemunho da fé cristã pela sua adesão pessoal e comunitária da mesma. Em outras palavras: serem cristãos autênticos, missionários e comprometidos. Para chegar a isso leva-se anos, não é com um encontrinho ou um período do ano, somente. Tais encontros, são apenas “aperitivos” onde o catequizando vai tomando gosto por algo que é muito mais profundo. Daí entender porque a catequese é um processo permanente.

Durante esse processo se faz necessário uma boa apresentação dos conteúdos da fé; passar uma imagem da Igreja correspondente à essa fé e sua realidade onde se encontra inserido; dar noções de espiritualidade, de liturgia, de bíblia, e dos valores humano para um testemunho adequado no mundo. Despertar e aprofundar o amor a Jesus e como consequência à aquilo que identifica nossa cultura cristã. Pois, tudo isso é um patrimônio nosso, faz parte de nosso ser cristão, seguidor de Jesus.

Na catequese não tratamos com nossos catequizandos, sobretudo adolescentes e jovens, de temas polêmicos da fé, mas se por acaso houve por algum motivo surgido tais temas, devemos ser honestos, transparentes, argumentativos sem sermos preconceituosos, julgadores ou acusativos. Com bom senso e serenidade devemos comentá-los de modo a não deixar dúvidas e não se deter neles, pois no processo formativo, isso não colabora com a eficácia, mas em alguns casos cria mais problemas. Que esses temas não seja o centro pelo qual a formação gira em torno, mas dada uma resposta rápida sem entrar em discussão, prossigamos com os objetivos desejados.

Muitos leigos, catequistas e sacerdotes se frustram por exemplo, quando após a recepção dos sacramentos, seus catequizados não voltam mais à convivência comunitária ou não dão prosseguimento ao seu processo formativo. Diretamente ou indiretamente sempre fica uma sensação de que catequistas não foram eficientes ou a catequese não foi bem feita. Isso é algo que nos questiona, mas que não é culpa do catequista ou da catequese, porque há um conjunto de coisas (situações e situações) para se avaliar, se pensar e que estar em jogo. Há todo um contexto, e na maioria das vezes catequistas e o processo catequético estão isentos de tal culpa. E arrisco dizer que uma dessas situações nos remete ou está associada a compreensão que temos e ao modelo que temos de Igreja-Comunidade em nossas paróquias. Muitas vezes queremos que nossos catequizandos se engajem, mas não tem nada atrativo na comunidade que ele goste ou se identifique; ou que não há chance dele desenvolver suas habilidades, seus dons… Sabemos trabalhar com multidão, mas temos dificuldade de trabalhar com pequenos grupos e com planejamento bem definidos. As vezes nossas paróquias têm uma prática mais “de religião” do que “de comunidades”. Pensamos e temos mais “cabeça de religião” do que de “comunidade de discípulos aprendizes e servidores” que tem responsabilidade dentro e fora da Igreja.

O fato é que, temos muito para nos autoavaliar, temos muito que aprender a pensar como comunidade de fé. Jesus começou com doze. E queria o Reino, não multidão. Essa é detalhe e vem por acréscimo.

A questão é, temos uma situação na Igreja quando se trata de Catequese que deve ser pensada e repensada; e uma força extraordinária que precisa de uma atenção especial que são os catequistas. Eles são o rosto, o corpo, as mãos e os pés da catequese.

Por isso, o DNC, tem várias e boas orientações sobre a pessoa, missão e formação do catequista; e nos dá boas pistas de como deve ser a catequese paroquial. Lembrando que catequese não é só coisas de “primeira eucaristia”, “preparação para crisma”, “preparação para o batismo”, etc., envolve muito mais. Mexe com a comunidade toda e com toda comunidade.

O processo formativo de educação da fé é algo que deve e envolve toda comunidade, por isso que o padre é na paróquia o primeiro catequista, o cabeça da catequese e deve pensar a formação de seus paroquianos como um todo. Não só dos catequistas. Eles sabem disso.

O papa são João Paulo II quando esteve no Brasil elogiou e cobrou dos nossos pastores (padres, bispos) amor, eficiência e preocupação com a catequese. Na ocasião disse que só tinha a admirar e apoiar quem “investia” na catequese, pois a mesma deveria ser prioridade. Prioridade!

Isto é, dá toda atenção que a mesma merece e precisa, pois não se trata de um movimento ou pastoral, mas da ação evangelizadora e missionária da Igreja. Como a Liturgia, a Pregação, a Caridade, a Catequese é tão essencial e faz parte do sangue e do axioma existencial da Igreja. Não é uma coisa qualquer. É aquilo que dá identidade a Igreja quando se trata de mostrar sua presença e ação no mundo. Porque a catequese preparando bem o discípulo, dá testemunho e o remete e remete a Igreja para o seu Senhor, Jesus.

A catequese não é um movimento e nem tão pouco uma pastoral, é algo mais profundo porque faz parte da essência da Igreja. Enquanto existir a Igreja a catequese existirá, movimento e pastoral não. Existe na catequese a “dimensão” do movimento e da pastoral, mas ela vai muito mais além e diz mais da essência missionária e querigmática da Igreja, de que sua “necessidade” pastoral que tendo completando seu papel histórico, finda sua missão. A Igreja e consequentemente a Catequese diz muito mais e vai mais além, como já o frisamos aqui.

A educação da fé é uma necessidade da Igreja, de toda Igreja. Por isso que se faz necessário uma equipe que pense o processo formativo catequético da paróquia, onde leigos, todos eles, de todos os movimentos, pastorais, grupos, associações, comunidades devem participar. O padre como pai e primeiro interessado deve animar e facilitar e incentivar exigindo a participação de todos nesse processo, pois uma paróquia sem formação, que não cuida de seus membros, terá grande dificuldade com sua ação missionária, com a vivência da liturgia, com a pratica e compreensão da espiritualidade de seus associados, que em alguma coisa ficará em déficit e a mercê dos lobos externos, que buscam as ovelhas para as devorar.

É urgente e precisamos pensar e repensar o processo catequético paroquial e comunitário; e acabar com essa história de que catequese é só para recepção dos sacramentos, coisa de crianças, adolescentes e jovens. Porque do contrário num futuro não muito distante, colheremos os frutos à contragosto por não termos agidos em bom tempo.

A educação da fé não é uma opção é uma urgência e dever de todos nós cristãos comprometidos. Somos nós que temos que agir, não esperar por outros ou por iniciativas “de cima” esperando que “caia do céu”, ou que alguém seja iluminado. Temos que nos conscientizar e despertar a consciência dos outros, pois essa é uma bonita e bela atitude de amor a Jesus e a Igreja.

É nossa fé, nossa identidade, e nossa catequese, enquanto catequistas que somos, que está em jogo. Um catequista sem formação ou mal formado tem consequência para a catequese e toda Igreja. Uma Igreja que não cuida da formação de seus membros, tem consequência para o Cristianismo como todo. Então, vamos dar o primeiro passo: nos conscientizar de que todos nós precisamos da educação da fé.

Nossos bispos ano pós anos nos tem incentivados, exortados, orientados nessa questão e, inúmeros são os documentos, principalmente da CNBB, a conclamar nossa gente para uma maturação da fé e uma fé adulta obrativa, que como nos diz são Pedro, devemos estar preparados para dar razões de nossa fé a quantos nos pedirem, testemunhando assim o quanto é bom seguir Jesus, viver em comunidade, lutar para transformar para melhor a realidade. Viva à catequese! Viva!

Obra consultada:

Diretório Nacional de Catequese (DNC). Edições CNBB

Catequese Renovada (CR). Edições Paulinas

Pronunciamento do papa no Brasil ,Editora Vozes

 

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